O mês começa assim, bisonho e cinzento.
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Os burocratas levam vantagem. Nós queremos convencer-nos que não levam, mas levam. São os especialistas das contas, dos dossiês, dos estudos, da racionalidade.
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A saúde dá despesa e desiquilibra o orçamento. Portanto, quem ficar doente em Mértola, que se vá tratar a Beja. Não tem carro? Tivesse comprado um, desenrasque-se...
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Os postos da GNR estão em mau estado? Paciência. É melhor fechá-los. Racionaliza-se. Mandam-se os soldados de Mértola para Castro Verde e para a Mina. Segurança? Ora, ora, não há-de haver problema, que isto é tudo gente pacífica.
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Precisamos de um aeroporto? Precisamos, claro. Faça-se lá o aeroporto que os aviões hão-de aterrar. A bem ou a mal.
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E há combóio para levar os viajantes dos céus a Lisboa? Não, mas há umas automotoras que são do melhor. Vai-se até casa Branca e depois teremos direito a passar para os transportes do primeiro mundo.
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Mas o combóio não tinha uma taxa de ocupação elevada? Oh, pá, tinha, mas aquilo eram só bilhetes de redução (militares e velhotes). Era muita gente mas pouca grana. Fizeram-se uns estudos e racionalizou-se.
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Então e os velhotes? Que se amanhem. Que vão viver para casa dos filhos.
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O interior dá "prejuízo"? Deve dar. Muitas estradas para pouca gente. Gente idosa e com poucos recursos. Terrenos pouco produtivos e ao abandono. Estude-se então. Racionalize-se. Extingam-se municípios. Ourique, Mértola e Almodovar somam apenas 23.000 almas? Isso é que não pode ser. Estude-se e debata-se. Racionalize-se e concentre-se. Suprimam-se as aldeias inúteis e a sua memória. Não é coisa inédita na Europa. Ceausescu fez o mesmo na Roménia, no final dos anos 80. Segundo ouvi dizer parece que aquilo não correu lá muito bem.
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Os burocratas levam vantagem. Nós queremos convencer-nos que não levam, mas levam. São os especialistas das contas, dos dossiês, dos estudos, da racionalidade.
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A saúde dá despesa e desiquilibra o orçamento. Portanto, quem ficar doente em Mértola, que se vá tratar a Beja. Não tem carro? Tivesse comprado um, desenrasque-se...
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Os postos da GNR estão em mau estado? Paciência. É melhor fechá-los. Racionaliza-se. Mandam-se os soldados de Mértola para Castro Verde e para a Mina. Segurança? Ora, ora, não há-de haver problema, que isto é tudo gente pacífica.
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Precisamos de um aeroporto? Precisamos, claro. Faça-se lá o aeroporto que os aviões hão-de aterrar. A bem ou a mal.
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E há combóio para levar os viajantes dos céus a Lisboa? Não, mas há umas automotoras que são do melhor. Vai-se até casa Branca e depois teremos direito a passar para os transportes do primeiro mundo.
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Mas o combóio não tinha uma taxa de ocupação elevada? Oh, pá, tinha, mas aquilo eram só bilhetes de redução (militares e velhotes). Era muita gente mas pouca grana. Fizeram-se uns estudos e racionalizou-se.
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Então e os velhotes? Que se amanhem. Que vão viver para casa dos filhos.
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O interior dá "prejuízo"? Deve dar. Muitas estradas para pouca gente. Gente idosa e com poucos recursos. Terrenos pouco produtivos e ao abandono. Estude-se então. Racionalize-se. Extingam-se municípios. Ourique, Mértola e Almodovar somam apenas 23.000 almas? Isso é que não pode ser. Estude-se e debata-se. Racionalize-se e concentre-se. Suprimam-se as aldeias inúteis e a sua memória. Não é coisa inédita na Europa. Ceausescu fez o mesmo na Roménia, no final dos anos 80. Segundo ouvi dizer parece que aquilo não correu lá muito bem.
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Quem leva a dianteira nesta batalha são os consultores, os dos dossiês, os da burocracia. Para nossa desgraça, agora que precisávamos de estadistas de visão larga calham-nos em sorte serventuários da índole de um José Junqueiro, tal como antes tivéramos um Eduardo Cabrita e antes desse outros que passam pelo Estado sem deixar memória mas legando-nos um futuro cada vez mais incerto. E o pior é que estão convencidos de que nos prestam a todos, e a Portugal, um serviço decisivo. Ai da Pátria sem eles...
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Vejam o Playtime, na íntegra. O filme foi meio incompreendido, quando Jacques Tati o realizou, em 1967. O absurdo de uma normalização levada ao extremo era prevista nesse filme genial. Vale a pena retomar a sua leitura. E vale, cada vez mais, a pena a luta (política, cultural etc.) contra aquilo em que querem transformar as nossas vidas.
Quem leva a dianteira nesta batalha são os consultores, os dos dossiês, os da burocracia. Para nossa desgraça, agora que precisávamos de estadistas de visão larga calham-nos em sorte serventuários da índole de um José Junqueiro, tal como antes tivéramos um Eduardo Cabrita e antes desse outros que passam pelo Estado sem deixar memória mas legando-nos um futuro cada vez mais incerto. E o pior é que estão convencidos de que nos prestam a todos, e a Portugal, um serviço decisivo. Ai da Pátria sem eles...
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Vejam o Playtime, na íntegra. O filme foi meio incompreendido, quando Jacques Tati o realizou, em 1967. O absurdo de uma normalização levada ao extremo era prevista nesse filme genial. Vale a pena retomar a sua leitura. E vale, cada vez mais, a pena a luta (política, cultural etc.) contra aquilo em que querem transformar as nossas vidas.
Ao que fui informado, o Sr. tem responsabilidades na Câmara de Moura (ignore se for incorrecto).
ResponderEliminarQual foi a ultima vez que passou na estrada Sobral-Vale de Vargo, é que eu passie por lá nestes ultimos dias, não sou "burucrata cinzento" e não gostei do que vi e senti (eu e principalmente o carro)
O seu comentário pouco ou nada tem a ver com o "post".
ResponderEliminarAconselho-o a fazer chegar a sua posição à Câmara Municipal. Assinada, evidentemente.
Caro Sr.
ResponderEliminarA sua resposta ao meu comentário é desprovida de fundamento,pois quando o Sr. comenta:
"A saúde dá despesa e desiquilibra o orçamento. Portanto, quem ficar doente em Mértola, que se vá tratar a Beja. Não tem carro? Tivesse comprado um, desenrasque-se..."
Como facilmente pode ver o meu comentario é semelhante ao seu:
A estrada Sobral-Vale de Vargo tem pouco movimento, o seu arranjo é caro, portanto quem precisa dela que a mande arranjar ou desenrasque-se...
Devemos denunciar o que vai mal na nossa região e responsabilizar o poder central pelas atrocidades que vai cometendo (os tais burocratas cinzentos), mas quando se tem responsabilidades no poder local devemos dar o exemplo.
Quanto ao fazer chegar esta preocupação à CM, tem toda a razão . Se me puder indicar um canal electronico para o fazer agradecia, pois já procurei na vossa página e não encontrei (provavelmente procurei mal)
Quanto ao anonimato, concordo consigo, devemos assinar aquilo que escrevemos, o meu nome é Manuel Machado, resido em vale de Vargo e tenho uma pequena parcela de olival em Fernão Teles (Sobral-Moura). O meu contacto é mmachado2000@gmail.com
Caro sr. Manuel Machado
ResponderEliminarEnviei um mail para o endereço electrónico que indicou.
Devemos sempre denunciar o que vai mal na nossa região. E isso abrange o poder local.
Tenho a noção clara que muitos vezes não conseguimos chegar a todos os locais. E que há coisas que não temos conseguido resolver. Mas não viramos as costas às populações. Nem nos escondemos detrás dos "estudos" e da "legislação". Ao contrário do que o poder central tem vindo a fazer com o interior.
Ao anónimo que enviou um "comentário" às 16.54: pois, há quem ande a querer levar na cabeça há vários anos e não o consiga...
ResponderEliminarDeves estar a ver-te ao espelho. Andas há muitos anos dando graxa ao PCP mas só levas na cabeça.
ResponderEliminarUm blogue que se preze tem de ter esta componente psicanalítica e converte-se em algo semelhante a um Muro das Frustrações, onde gente anónima vem despejar coisas assim.
ResponderEliminarE esta, amigo LT, apago ou deixo ficar? Que te parece?