quarta-feira, 13 de abril de 2011

AEROPORTO 2011


Há pista, mas não há aviões. Houve um investimento imenso, mas o dinheiro gasto ainda não trouxe a prosperidade. Há aquilo a que se chama um aeroporto ou, melhor dizendo, a expectativa de um aeroporto. À boa maneira do sul, hesitou-se e avançou-se. Quando se avançava, parecia que se recuava. Discutiam-se minudências. Debatia-se o nome a dar ao aeroporto e esta questão menor tornou-se motivo de guerra. Houve confusão e balbúrdia. Os custos eram uns e depois já não eram esses. Eram outros, foram outros, muito maiores. Os valores dispararam e atingem muitos milhões.


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Passado todo este tempo, e são vários anos já, continua a não haver aviões. Teoricamente, deveria haver. Foi para isso que se fez o projecto. Tecnicamente, o aeroporto, situado numa zona plana e sem ventos difíceis, deveria ter movimento. As questões ambientais são, até, menores. Depois, chove pouco na região. Os dias de nevoeiro são raros, o que faz do aeroporto um sítio potencialmente interessante.


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Passado todo este tempo, a pista é um deserto de alcatrão. Os autarcas que a defenderam em breve passarão à história, os especialistas que a justificaram terão desaparecido e terão explicações complexas para o fracasso.


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Agora, que a desgraça está consumada, algumas perguntas ganham maior sonoridade:


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Qual o efectivo interesse do aeroporto?


Qual o investimento total necessário até a estrutura estar em funcionamento?


Quais os negócios em perspectiva?


Quais as companhias que já manifestaram interesse em ali se instalar?


Qual o volume de negócios necessários para a amortização do investimento?


Quantos anos se prevê que sejam necessários para que a estrutura se torne lucrativa?


Quais os custos de manutenção anuais da infraestrutura?


Quem paga?


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O que até agora estive a contar refere-se ao Aeroporto de Ciudad Real, em Espanha. Inaugurado em 2008, depois de um conturbado percurso, teve 53.500 passageiros em 2009 e 31.000 até final de Novembro passado. O aeroporto está às moscas e há despedimentos em vista. As promessas converteram-se em ruína. Agora, toda a gente assobia para o lado. O Aeroporto de Ciudad Real fica a 220 quilémtros de Madrid, dos quais 160 são em auto-estrada. Não sei se esta situação vos faz recordar algo. A mim faz.


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Crónica redigida, há uns meses, para a Rádio Pax.


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O primeiro voo sai do aeroporto de Beja amanhã. Conto os minutos para registar a quantidade de disparates que se irão debitar.

10 comentários:

  1. Caro Santiago, certos investimentos deverão ser visto num todo (e médio e longo prazo) e não apenas numa visão económica imediata. A conversa faz-me lembrar o pessoal do capital que só vê cifrões.

    De qualquer das formas deveremos lembrar-nos que um aeroporto, como o de Beja, não servírá apenas para passageiros (e carga, eventualmente). Poderá e deverá servir para manutenção: fica muito ,mas muito mais barato, do que o aeroporto de Lisboa ou de Cascais (o famoso aerodromo de Tires). Se isso não é suficiente para ajudar o desenvolvimento do Alentejo, bem... sei que os museus e bibliotecas também não trazem assim tanto dinheiro mas não é por isso que não são necessários e não são feitos!

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  2. "Não sei se esta situação vos faz recordar algo. A mim faz."

    Humm....PAX JULIA INTERNATIONAL AIRPORT !???

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  3. Caro AMC
    Concordo com o que dizes. No entanto, o que está escrito no site da EDAB é o seguinte:
    "O principal factor de desenvolvimento do aeroporto é o turismo, assentando fundamentalmente na oferta turística do Alentejo (nomeadamente no litoral e no Alqueva) e nos mercados emissores tradicionais"

    Decerto que todas as possibilidades que referes são importantes. Mas, até à data, ninguém referiu negócios já concretizados ou em negociação. Ora é esse silêncio que me intriga. Oxalá me engane e não estejamos ante outro elefante branco.

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  4. E continuando à carga:
    No sul de França, na Catalunha francesa, existe uma cidade chamada Perpignan com um pequeno aeroporto que sobrevive sobretudo de empresas de manutenção de aviões; Na Irlanda existe também uma pequena vila com 9 mil habitantes, Shannon, que possui também um pequeno aeroporto com ligações diárias para Londres e sobrevive graças a algumas empresas de manutenção de aviões.

    Sim, há mercado para desenvolver o aeroporto se houver vontade politica para isso e se não houver velhos do Restelo a teimar que tudo o que vem do Governo é mau.

    As potencialidades de emprego especializado são enormes. Uma empresa de manutenção de aeronaves necessita de técnicos e engenheiros altamente treinados, consome uma quantidade enorme de mão-de-obra e de material diverso.

    Além disso, Santiago, existem actualmente empresas em contacto com entidades de Beja para formar Técnicos de Manutenção de Aeronaves, nomeadamente a LAS (www.las.pt). Poderá haver mais... mas também não sei de tudo!

    Turismo? Bem, acho que aí concordamos os dois que não será com certeza a mais valia do aeroporto, sobretudo sem qualquer tipo de transporte directo para que lado for. Inclusive os Inter-Cidades irão terminar! Mas não esquecer a comunidade alentejana emigrada em França e Suiça que são potenciais clientes.

    Mas eu, pessoalmente, aposto mais na manutenção. Claro, Santiago, esta aposta da minha parte é sincera mas sobretudo porque... bem, compreendes!

    Abraços!

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  5. Aeroporto em terra de miséria ou de promissão?Nem uma coisa nem outra!O dinheiro mal ou bem, mais mal do que bem, pois bem vistas as coisas,trata-se de um investimento de países ricos, já foi gasto.Foi um devaneio, um sonho de uma noite de verão daqueles que possuem um rosto e um nome.Agora haverá que congregar esforços para rentabilizar esse investimento e as autarquias de todo o alentejo terão um papel muito importante nesse objectivo nacional.E o alentejo é uma verdadeira terra de promissão para um turismo diferente,de qualidade e com a indispensável vertente cultural.

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  6. Hoje, no dito Aeroporto, foram assinados 5 protocolos de desenvolvimento com Empresas de vários sectores. Os voos regulares vão ter inicio com Londres. Que silêncio intriga o Santiago? As Empresas envolvidas deram informação mas nenhum Autarca da CDU esteve presente, daí talvez não poderem ter ouvido e pensarem que por não terem ouvido, exista silêncio.

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  7. 5 protocolos?
    Estou impressionado.
    Voltarei a este tema dentro de um ano: a 13.4.2012.
    Veremos nessa altura onde andam os protocolos.
    Registo os nomes (segundo a imprensa): Sunvil, Herdade do Grous, TUIfly, Aeromec e Urbanos.

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  8. Béja n'a pas le choix, il ne faut pas écrire des choses pareilles Santiago, cet aéroport est la meilleure chose qui s'est faite ici : Béjà n'a pas d'autoroute, pas de TGV, c'est la mort à petit feu.
    Regardez l'Aéroport Châlons Vatry qui est comme Bejà une ancienne base militaire, quel beau succès, et c'est au milieu de rien (à la différence de Perpigan qui a les Pyrénées et de Shannon qui a les immigrés irlandais aux USA et beaucoup d'équipements touristiques)
    Si Beja ne fait rien Sines prendra sa place et ce sera mérité, Sines a une population en forte croissance, la mer, et des entreprises qui investissent.
    Comment l'Algarve se développe ? Aeroport de Faro + autoroutes.
    Ici, à Ourique, partout les entreprises sont confrontées à d'énormes problèmes de transport, les projets de golfs, d'hotels, de fruits, sont bloqués par les mauvais transports.
    Les rapports de l'OCDE sont tous formels pour les régions périphériques de l'Europe : priorité absolue aux transports.

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  9. Santiago não quer dizer nada sobre o facto de nenhum Autarca da CDU ter estado presente? Foi ordem que acataram?

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  10. Não há nada como uma pergunta divertida à hora de sobremesa...
    Desconheço ordens para ir ou não ir.

    Aqui entre nós (e shhh, não diga a ninguém, ok?): esse é o tipo de ordens que nunca acato. Também é válido para proibições.

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