Este post sobre Sekou Touré (1922-1984) foi motivado por uma conversa tida ao jantar, no dia 20, com o meu amigo Miguel Urbano Rodrigues. Por várias vezes me tem chamado a atenção para as contradições que, ao longo da vida, presenciamos e vivemos. E para os percursos pouco lineares que seguimos. Num homem há vários homens, diz ele amiúde.
Isso fez-me recordar uma passagem do primeiro volume do seu O tempo e o espaço em que vivi (pp. 233-234):
Sekou surpreendeu-me. Fez um gesto amistoso e informou que podia como jornalista contar com toda a ajuda do seu Governo no desenvolvimento da minha reportagem. Depois, esclareceu que veria com simpatia a vinda para a Guiné dos meus companheiros do "Santa Maria"; (...) Percebi então que me recebera antes do início de uma reunião da Comissão Política. O cenário e o à vontade traduziam, afinal, uma deferência.
(...) Muitos anos depois, quando os crimes da ditadura guineense eram comentados pelos mass media, imagens daquela manhã no Palácio Presidencial de Conakry ganhavam nitidez na memória. Senti sempre dificuldade em perceber os mecanismos da transformação do I Sekou Touré, o sindicalista revolucionário e marxizante, o autor do famoso 'Não' a De Gaulle, o admirador entusiasta de Fidel Castro, no II Sekou Touré, o caudilho primário e cruel cujos últimos anos de governo ficaram assinalados por banhos de sangue. Daqueles 18 membros da Comissão Política do seu partido, antigos coompanheiros de luta, creio que somente um, Dialo Sayfoullah, então presidente da Assembleia Nacional, não foi assassinado a mando de Sekou. Morreu antes, em consequência de um cancro.
Dois homens incompatíveis viveram na fundação do primeiro estado da antiga África Ocidental Francesa que conquistou a independência. O segundo negou o primeiro.
Isso fez-me recordar uma passagem do primeiro volume do seu O tempo e o espaço em que vivi (pp. 233-234):
Sekou surpreendeu-me. Fez um gesto amistoso e informou que podia como jornalista contar com toda a ajuda do seu Governo no desenvolvimento da minha reportagem. Depois, esclareceu que veria com simpatia a vinda para a Guiné dos meus companheiros do "Santa Maria"; (...) Percebi então que me recebera antes do início de uma reunião da Comissão Política. O cenário e o à vontade traduziam, afinal, uma deferência.
(...) Muitos anos depois, quando os crimes da ditadura guineense eram comentados pelos mass media, imagens daquela manhã no Palácio Presidencial de Conakry ganhavam nitidez na memória. Senti sempre dificuldade em perceber os mecanismos da transformação do I Sekou Touré, o sindicalista revolucionário e marxizante, o autor do famoso 'Não' a De Gaulle, o admirador entusiasta de Fidel Castro, no II Sekou Touré, o caudilho primário e cruel cujos últimos anos de governo ficaram assinalados por banhos de sangue. Daqueles 18 membros da Comissão Política do seu partido, antigos coompanheiros de luta, creio que somente um, Dialo Sayfoullah, então presidente da Assembleia Nacional, não foi assassinado a mando de Sekou. Morreu antes, em consequência de um cancro.
Dois homens incompatíveis viveram na fundação do primeiro estado da antiga África Ocidental Francesa que conquistou a independência. O segundo negou o primeiro.
Sekou Touré governou na Guiné-Conakry entre 1960 e 1984. Morreu nos Estado Unidos, vítima de crise cardíaca.
Há um segundo volume do livro de Miguel Urbano Rodrigues? Tenho o primeiro, mas nunca encontrei o segundo.
ResponderEliminarHá um segundo volume. E deveria haver, até, um terceiro, de cuja publicação o Miguel desistiu.
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