sábado, 25 de junho de 2011

TUNÍSIA IX: CENAS DA VIDA QUOTIDIANA NO HOTEL AMILCAR

A última paragem daquela viagem foi Cartago. Passáramos, o António Cunha e eu, mais de uma semana às voltas pela Tunísia. Ele fotografava, eu tomava notas sobre as basílicas cristãs, das quais ía também fazendo alguns slides. Cidade da maior importância para a História do Mediterrâneo, nela se conservam vestígios de algumas das mais antigas igrejas. Tudo junto, era coisa para justificar três dias de paragem. Totalmente por acaso seguimos uma placa que dizia Hotel Amilcar. Achámos a entrada espaventosa e resolvemos perguntar os preços. Afinal, eram mais que abordáveis. Não sei se pelo facto do edifício, um daqueles blocos anos 60 estilo-Albufeira, ser à data ainda propriedade da UGTT, a central sindical tunisina.

Os motivos de diversão sucederam-se:
Primeiro chegou um saudita numa limusine. Ainda eu mal acabara de preencher o boletim do check-in quando ouço um berro desesperado. O saudita estava de mãos na cabeça: tinham-lhe mostrado o preço do quarto do hotel (se bem recordo qualquer coisa à volta de 30 euros). O empregado do hotel olhava, alternadamente e espantadíssimo, para a cara do saudita e para a limusine parada à porta.
Depois entrou a mulher do saudita, de niqab, a quem ele obrigou a sentar-se de frente para uma parede e de costas para o resto da sala. Durante os dias seguintes, a cena repetiu-se, e a pobre infeliz foi obrigada a tomar as refeições nos mesmos preparos.
Mais tarde, ao abrir a janela do quarto, constatei que o hotel e a praia eram só para turistas: um gradeamento vedava o acesso dos indígenas ao areal (v. imagem de baixo). Pelo menos a alguns. Na noite seguinte, ao chegarmos ao hotel fora de horas quase chocámos no lobby com uma senhora alemã na casa dos 60 que beijava furiosamente (é esse o termo) um moço tunisino que não teria mais que uns 16 anos e que, visivelmente, não sabia muito bem como atuar.
Mas o punch-line estava reservado para a última noite, quando fomos convidados para assistir a um espetáculo junto à piscina. Que deve ter sido muito interessante, pelo menos para conheça a língua alemã. Apercebemo-nos então que éramos os únicos não-alemães no hotel, tomado de assalto por aquelas excursões que vão fazer férias à Tunísia sem chegar a ver a Tunísia. O entertainer tunisino, que cantava e dizia piadas em alemão, fez um enorme sucesso.


Amílcar Barca (c. 270 a.C - 228 a.C.) - general cartaginês, pai de Aníbal.

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