No meu país não acontece nada à terra vai-se pela estrada em frente Novembro é quanta cor o céu consente às casas com que o frio abre a praça
Dezembro vibra os vidros brande as folhas a brisa sopra e corre e varre o adro menos mal que o mais zeloso varredor municipal Mas que fazer de toda esta cor azul
que cobre os campos neste meu país de sul? A gente é previdente cala-se e mais nada A boca é para comer e pra trazer fechada o único caminho é direito ao sol
No meu país não acontece nada o corpo curva ao peso de uma alma que não sente Todos temos janela para o mar voltada o fisco vela e a palavra era para toda a gente
E juntam-se na casa portuguesa a saudade e o transístor sob o céu azul A indústria prospera e fazem-se ao abrigo da velha lei mental pastilhas de mentol
Morre-se a ocidente como o sol à tarde Cai a sirene sob o sol a pino Da inspecção do rosto o próprio olhar nos arde Nesta orla costeira qual de nós foi um dia menino?
Há neste mundo seres para quem a vida contém contentamento E a nação faz um apelo à mãe, atenta à gravidade do momento
O meu país é o que o mar não quer é o pescador cuspido à praia à luz do dia pois a areia cresceu e a gente em vão requer curvada o que de fronte erguida já lhe pertencia
A minha terra é uma grande estrada que põe a pedra entre o homem e a mulher O homem vende a vida e verga sob a enxada O meu país é o que o mar não quer
«A caridade é amor» Proclama dona Abastança Esposa do comendador Senhor da alta finança.
Família necessitada A boa senhora acode Pouco a uns a outros nada «Dar a todos não se pode.»
Já se deixa ver Que não pode ser Quem O que tem Dá a pedir vem.
O bem da bolsa lhes sai E sai caro fazer o bem Ela dá ele subtrai Fazem como lhes convém Ela aos pobres dá uns cobres Ele incansável lá vai Com o que tira a quem não tem Fazendo mais e mais pobres.
Já se deixa ver Que não pode ser Dar Sem ter E ter sem tirar.
Todo o que milhões furtou Sempre ao bem-fazer foi dado Pouco custa a quem roubou Dar pouco a quem foi roubado.
Oh engano sempre novo De tão estranha caridade Feita com dinheiro do povo Ao povo desta cidade.
MORTE AO MEIO-DIA
ResponderEliminarNo meu país não acontece nada
à terra vai-se pela estrada em frente
Novembro é quanta cor o céu consente
às casas com que o frio abre a praça
Dezembro vibra os vidros brande as folhas
a brisa sopra e corre e varre o adro menos mal
que o mais zeloso varredor municipal
Mas que fazer de toda esta cor azul
que cobre os campos neste meu país de sul?
A gente é previdente cala-se e mais nada
A boca é para comer e pra trazer fechada
o único caminho é direito ao sol
No meu país não acontece nada
o corpo curva ao peso de uma alma que não sente
Todos temos janela para o mar voltada
o fisco vela e a palavra era para toda a gente
E juntam-se na casa portuguesa
a saudade e o transístor sob o céu azul
A indústria prospera e fazem-se ao abrigo
da velha lei mental pastilhas de mentol
Morre-se a ocidente como o sol à tarde
Cai a sirene sob o sol a pino
Da inspecção do rosto o próprio olhar nos arde
Nesta orla costeira qual de nós foi um dia menino?
Há neste mundo seres para quem
a vida contém contentamento
E a nação faz um apelo à mãe,
atenta à gravidade do momento
O meu país é o que o mar não quer
é o pescador cuspido à praia à luz do dia
pois a areia cresceu e a gente em vão requer
curvada o que de fronte erguida já lhe pertencia
A minha terra é uma grande estrada
que põe a pedra entre o homem e a mulher
O homem vende a vida e verga sob a enxada
O meu país é o que o mar não quer
Ruy Belo
Ena!
ResponderEliminarDona Abastança
ResponderEliminar«A caridade é amor»
Proclama dona Abastança
Esposa do comendador
Senhor da alta finança.
Família necessitada
A boa senhora acode
Pouco a uns a outros nada
«Dar a todos não se pode.»
Já se deixa ver
Que não pode ser
Quem
O que tem
Dá a pedir vem.
O bem da bolsa lhes sai
E sai caro fazer o bem
Ela dá ele subtrai
Fazem como lhes convém
Ela aos pobres dá uns cobres
Ele incansável lá vai
Com o que tira a quem não tem
Fazendo mais e mais pobres.
Já se deixa ver
Que não pode ser
Dar
Sem ter
E ter sem tirar.
Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem-fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado.
Oh engano sempre novo
De tão estranha caridade
Feita com dinheiro do povo
Ao povo desta cidade.
Manuel da Fonseca, in "Poemas para Adriano"
É quase uma obrigação nacional e uma pena termos que recorrer a ela.
ResponderEliminarOlha! Olha! O homem do tambor…
ResponderEliminar…e a menina das tranças!!!
Ah!! O sol brilha nas tranças loiras da menina!
E o som do tambor…pan pan – pan pan pan…
Anónimo séc XX
Eu nem isso posso fazer.
ResponderEliminarMesmo custando-me um dia de salário,não posso deixar de fazer,e penso que todos os trabalhadores deveriam fazer,para mostrar o seu desagrado.
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