quarta-feira, 19 de outubro de 2011

SIM!

7 comentários:

  1. MORTE AO MEIO-DIA

    No meu país não acontece nada
    à terra vai-se pela estrada em frente
    Novembro é quanta cor o céu consente
    às casas com que o frio abre a praça

    Dezembro vibra os vidros brande as folhas
    a brisa sopra e corre e varre o adro menos mal
    que o mais zeloso varredor municipal
    Mas que fazer de toda esta cor azul

    que cobre os campos neste meu país de sul?
    A gente é previdente cala-se e mais nada
    A boca é para comer e pra trazer fechada
    o único caminho é direito ao sol

    No meu país não acontece nada
    o corpo curva ao peso de uma alma que não sente
    Todos temos janela para o mar voltada
    o fisco vela e a palavra era para toda a gente

    E juntam-se na casa portuguesa
    a saudade e o transístor sob o céu azul
    A indústria prospera e fazem-se ao abrigo
    da velha lei mental pastilhas de mentol

    Morre-se a ocidente como o sol à tarde
    Cai a sirene sob o sol a pino
    Da inspecção do rosto o próprio olhar nos arde
    Nesta orla costeira qual de nós foi um dia menino?

    Há neste mundo seres para quem
    a vida contém contentamento
    E a nação faz um apelo à mãe,
    atenta à gravidade do momento

    O meu país é o que o mar não quer
    é o pescador cuspido à praia à luz do dia
    pois a areia cresceu e a gente em vão requer
    curvada o que de fronte erguida já lhe pertencia

    A minha terra é uma grande estrada
    que põe a pedra entre o homem e a mulher
    O homem vende a vida e verga sob a enxada
    O meu país é o que o mar não quer

    Ruy Belo

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  2. Dona Abastança


    «A caridade é amor»
    Proclama dona Abastança
    Esposa do comendador
    Senhor da alta finança.

    Família necessitada
    A boa senhora acode
    Pouco a uns a outros nada
    «Dar a todos não se pode.»

    Já se deixa ver
    Que não pode ser
    Quem
    O que tem
    Dá a pedir vem.

    O bem da bolsa lhes sai
    E sai caro fazer o bem
    Ela dá ele subtrai
    Fazem como lhes convém
    Ela aos pobres dá uns cobres
    Ele incansável lá vai
    Com o que tira a quem não tem
    Fazendo mais e mais pobres.

    Já se deixa ver
    Que não pode ser
    Dar
    Sem ter
    E ter sem tirar.

    Todo o que milhões furtou
    Sempre ao bem-fazer foi dado
    Pouco custa a quem roubou
    Dar pouco a quem foi roubado.

    Oh engano sempre novo
    De tão estranha caridade
    Feita com dinheiro do povo
    Ao povo desta cidade.

    Manuel da Fonseca, in "Poemas para Adriano"

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  3. É quase uma obrigação nacional e uma pena termos que recorrer a ela.

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  4. Olha! Olha! O homem do tambor…
    …e a menina das tranças!!!
    Ah!! O sol brilha nas tranças loiras da menina!
    E o som do tambor…pan pan – pan pan pan…

    Anónimo séc XX

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  5. Eu nem isso posso fazer.

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  6. Mesmo custando-me um dia de salário,não posso deixar de fazer,e penso que todos os trabalhadores deveriam fazer,para mostrar o seu desagrado.

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