MARCELO NUNO

Marcelo fez hoje, na TVI, mais uma demonstração do seu brilho. Marcelo é superiormente inteligente e sabe-o. Raciocina a alta velocidade e diverte-se com isso. Hoje divertiu-se a chacinar o pobre António José Seguro. Terminou com um punch-line terrível: "os estatutos são a Constituição de um partido; quem não respeita os estatutos do seu partido, como irá respeitar amanhã, sendo primeiro-ministro, a Constituição do País?". Nesse momento, Marcelo parou, fez um esgar e deixou a dúvida em suspenso. A pergunta é retórica e demagógica, mas na velocidade da comunicação faz efeito e causa danos.

Marcelo Rebelo de Sousa é um jogador, que joga o jogo pelo jogo. A política não é, para ele, um fim, mas um instrumento lúdico. Em janeiro de 1974 (!) escrevia, sobre Marcelo, o jornalista Artur Portela Filho "Só ele se move. Só ele existe. Só ele manobra". E mais "A Marcelo Nuno deram, talvez, 90.000 quilómetros quadrados de esperança e dez milhões de bonecos de pasta. É o que se chama - um babygro político".

Quase quarenta anos passaram. O estilo mantém-se. Talvez por isso se justifique o que me dizia, ontem ao almoço, um conhecedor profundo do ambiente político lisboeta "Marcelo tem espetadores, mas dificilmente terá eleitores". Uma análise política rigorosa, feita em poucas palavras. Em tradução livre: não é pelo brihantismo do comentário que chegará a Presidente da República.