terça-feira, 26 de junho de 2012

ANTONIN PANENKA

A imagem é quase banal. Guarda-redes para um lado, bola para outro. Nesta, em concreto, o grande Sepp Maier já está sentada no chão e a bola vai entrar. Pretexto para evocar Panenka, agora que tanto se fala dele, depois de Pirlo ter feito o que fez.

Parece tudo normal, mas este momento pertence à História do Futebol.  Foi perto das 23 horas do dia 20 de junho de 1976. Checoslováquia e RFA tinham empatado na final do Campeonato da Europa. O prolongamento não deu nada e já se ía na segunda série de grandes penalidades. Se Antonin Panenka, médio do Bohemians de Praga, marcasse a Checoslováquia seria campeã europeia.

E a verdade é que Panenka fez tudo menos o que se esperaria. Arrancou para a bola e quando se pensava que ía chutar forte deu um toque leve no esférico, fazendo-o descrever uma parábola e entrar no centro da baliza, devagarinho. Uma verdadeira insolência (v. o filme aqui).

Panenka deu o nome a este toque habilidoso e de desplante, tal como Dick Fosbury o deu ao salto. Mas um panenka tem mais mérito e implica risco e coragem. E um pouco de poesia, também. Um panenka é algo que está quase à altura de uma chicuelina ou de uma manoletina.


GOL
Ferreira Gullar

A esfera desce
do espaço
veloz
ele a apara
no peito
e a para
no ar
depois
como o joelho
a dispõe à meia altura
onde
iluminada
a esfera
espera
o chute que
num relâmpago
a dispara
na direção
do nosso
coração.

O golo de Ferreira Gullar não é, pela descrição, um panenka. É um bonito gol, em todo o caso. A verdade é que, que eu saiba, só os poetas brasileiros têm a desinibição de poetar sobre futebol. Na Europa isso não se faz. Parece mal.

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