O foral manuelino de Moura faz hoje 500
anos. O documento, outorgado pelo monarca no dia 1 de junho de 1512, é um
extenso rol de normas, que constituiam a base de funcionamento do Município. O
dia 1 de junho será, pois, o ponto de arranque para um conjunto de celebrações
que têm este documento como tópico. Será também o retomar de iniciativas na
área do Património Cultural.
Ganha agora
novo fôlego o programa de recuperação do castelo de Moura. É um projeto
importante para Moura? Não é importante, é decisivo. É bom que algumas
criaturas, dadas à opinião avulsa, entendam duas ou três coisas fundamentais:
Quem não
sabe cuidar do passado não sabe respeitar a memórias do seus antepassados
e não sabe preparar o futuro;
Quem não
proteger os monumentos e os reabilitar vai ter, no futuro, custos
acrescidos de reparação e de manutenção;
Quem,
tendo responsabilidades autárquicas, descurar a reabilitação dos
principais edifícios do concelho, não conseguirá criar condições para o
desenvolvimento económico e cultural das terras que têm obrigação de
gerir.
Ora bem, o castelo de Moura encaixa aqui na
perfeição. Recordo que, até abril de 2004, o sítio esteve fechado ao público.
Nessa altura, e durante uma visita do Presidente Jorge Sampaio, o castelo foi
reaberto. Era melhor ter-se feito a intervenção de uma vez só? Sem dúvida. Mas
em municípios com poucos recursos e com muitas frentes de trabalho tal é
impossível. Isso levou-nos a avançar por etapas: primeiro, o arranjo global do
sítio; depois, a consolidação estrutural do convento; mais tarde, as obras de
recuperação da torre do relógio, a musealização da torre de menagem e a
abertura deste espaço ao público, o que ocorrerá durante o corrente mês.
Está terminado este processo? Não está,
ainda não está. A partir de junho e até ao outono decorre a conclusão do
edifício de receção ao turista e termina-se a obra de iluminação das muralhas.
São percursos lentos, acompanhados por um
projeto de escavações arqueológicas que segue, quase ao longe, o ritmo das
obras. Troços da história da nossa cidade vêem, assim, a luz do dia. Casas
islâmicas, canalizações quatrocentistas, casas quinhentistas, quartéis da
Restauração, horas e dias de tempos idos são redescobertos, dando seguimento a
um percurso que iniciei no já distante mês de junho de 1989. À medida que os
anos passam as perspetivas tornam-se mais claras e as hipóteses outrora
esboçadas são, de vez, confirmadas ou rejeitadas. A chegada da Vanessa, desde
2003, e do José Gonçalo, desde 2010, trouxe juventude ao projeto de
investigação. Com a Marta, a Luísa e o Romero a equipa ganhou estabilidade. E
mais segurança. E por mais irascível e perfecionista que me cataloguem (private joke para um membro da equipa) não alterarei um milímetro ao percurso.
E agora? Que se segue? Como será o futuro
deste nosso monumento? Aqui está uma pergunta cuja resposta não pertence, em
exclusivo, a quem quer que seja. O futuro do castelo de Moura será uma
construção coletiva de arqueólogos, historiadores, arquitetos, fotógrafos,
designers… Pertencerá, sobretudo, aos mourenses. A todos os mourenses. Com a
óbvia exceção dos especialistas em opiniões avulsas.
Texto publicado em A Planície de dia 1.6.2012
Muitos parabéns!
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