quinta-feira, 9 de agosto de 2012

IGREJA DE SANTIAGO: O MOMENTO KIM-IL-SUNG DE UMA CARREIRA

Quando a Lígia me enviou a sms com o texto “a moeda da ue 9 é um dinheiro de D. Afonso IV (1325-1357)” quase íamos (a Vanessa, o José Gonçalo e eu) tendo um badagaio com a emoção. Comecemos, contudo, pelo princípio. A Lígia Rafael é uma colega e amiga que se disponibilizou a fazer a limpeza e estabilização de uma moeda, encontrada junto a um muro de um vasto compartimento que estava a ser escavado no castelo de Moura. De repente tudo fazia sentido: os muros fortes, o pavimento argamassado, o pequeno quadrilátero junto à parede este, os enterramentos no exterior do edifício.

Se o conjunto de elementos parecia apontar para a presença de uma igreja associada a uma necrópole ainda nos custava a acreditar que pudéssemos estar em presença de um templo medieval. A moeda do séc. XIV no interior do altar ajudou a afastar dúvidas, os ceitis de D. Afonso V pertencentes aos enterramentos do exterior vieram dar solidez a uma hipótese que não sonharíamos à partida. Acabávamos de identificar a igreja de Santiago, referida na documentação medieval mas que estava, até à data, por localizar. É quase um milagre que, ante as sucessivas obras no castelo de Moura, concretizadas ao longo de vários séculos, tenha sobrevivido uma parte importante da cidade medieval.

A igreja é bonita? Nem por isso. É uma simples nave, bem pobrezinha, benza-a Deus. Nada de decoração, nada de elementos arquitetónicos elaborados. Uma nave e nada mais. Talvez mais interessante, do ponto de vista histórico, por isso mesmo. Até porque o ascetismo com que o espaço foi pensado vai a par com o austeridade dos dias que vivemos…

Verdade se diga que, apesar das referências escritas, várias vezes duvidámos da existência da igreja de Santiago, ao ponto de pensarmos ser a alusão ao templo fruto de um qualquer equívoco. A localização é, contudo, perfeita: dentro do perímetro fortificado e junto à porta da alcáçova. Estamos perto, muito perto, do local da antiga mesquita de Moura. As sacralizações destas são, por norma, feitas através do nome de Santa Maria, mas os exemplos de locais de culto muçulmanos convertidos em igrejas de S. João, do Espírito Santo ou, até, de Santiago não faltam. Encontrar uma mesquita no meio dos restos dos enterramentos cristãos e numa área muito refeita após meados do século XIII seria ter uma sorte pouco comum. Provavelmente, não teremos essa fortuna.

Como sugeriu uma amiga “ainda vão dizer que inventaste o nome da igreja, só para ser o teu”. É pouco provável que o digam, mas essa parte é aquela que ao José Gonçalo, à Vanessa e a mim menos interessa. A campanha está ganha e o modelo da ocupação medieval do castelo fica, a cada dia, mais claro. Esse é o dado essencial.




Crónica publicada no jornal "A Planície" de 6 de agosto de 2012

Pequena legenda da fotografia:
1 - À esquerda deste número identifica-se uma pequena estrutura quadrangular, que pensamos ter sido um altar;
2 - Local onde se encontrou a moeda da primeira metade do século XIV;
3 - Enterramento com moeda associada (ceitil de D. Afonso V);
4 - Enterramento com moeda associada (ceitil de D. Afonso V);

8 comentários:

  1. Hans Wilhelm Daehnhardt9 de agosto de 2012 às 13:35

    Parabéns e continue. Há sempre cépticos e invejosos.
    Desejo êxito
    Hans

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  2. Parabéns à equipe… excelente trabalho… boa continuação… … “Fortuna” para a mesquita… :)

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  3. HUM...FELIZ EM PODER RECEBER ESTAS NOTICIAS SOBRE O NOSSO PATRIMÓNIO E DA AVENIDA.
    UM BEM HAJA BOA EQUIPA DA QUAL SERIA UMA HONRA FAZER PARTE. BEIJINHOS SEGUIR EM FRENTE COM MUITA SORTE É O QUE DESEJO

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  4. Igreja de Santiago??? Mais uma coisa estranha, é que andamos numa agora de esquesitisse!!!!!Gosto do nome...

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  5. Gostava de ver essa "limpeza e estabilização", não me digam que destruíram mais uma, metendo-a cor de laranja ou cor de rosa...

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  6. Santiago,
    parabéns pela identificação da igreja DO Santiago! Se aparecerem capitéis ou elementos decorativos góticos, dá uma apitadela. Gostaria de os ver.
    Votos de uma boa campanha, que pelos vistos promete! Um abraço
    Paulo Fernandes

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  7. Parabéns à equipa e aos mourenses que conhecem agora mais um "pedaço"da sua história. Lígia Rafael

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  8. Um forte abraço para o Santiago e muitos parabéns a toda a equipa, que, passo a passo vai descobrindo recantos e referências há muito escondidas, desta nossa bela cidade de Moura.

    Paulo Rosa

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