Quando a Lígia me enviou a sms
com o texto “a moeda da ue 9 é um dinheiro de D. Afonso IV (1325-1357)” quase
íamos (a Vanessa, o José Gonçalo e eu) tendo um badagaio com a emoção.
Comecemos, contudo, pelo princípio. A Lígia Rafael é uma colega e amiga que se
disponibilizou a fazer a limpeza e estabilização de uma moeda, encontrada junto
a um muro de um vasto compartimento que estava a ser escavado no castelo de
Moura. De repente tudo fazia sentido: os muros fortes, o pavimento argamassado,
o pequeno quadrilátero junto à parede este, os enterramentos no exterior do
edifício.
Se o conjunto de elementos
parecia apontar para a presença de uma igreja associada a uma necrópole ainda
nos custava a acreditar que pudéssemos estar em presença de um templo medieval.
A moeda do séc. XIV no interior do altar ajudou a afastar dúvidas, os ceitis de
D. Afonso V pertencentes aos enterramentos do exterior vieram dar solidez a uma
hipótese que não sonharíamos à partida. Acabávamos de identificar a igreja de
Santiago, referida na documentação medieval mas que estava, até à data, por
localizar. É quase um milagre que, ante as sucessivas obras no castelo de
Moura, concretizadas ao longo de vários séculos, tenha sobrevivido uma parte
importante da cidade medieval.
A igreja é bonita? Nem por isso.
É uma simples nave, bem pobrezinha, benza-a Deus. Nada de decoração, nada de
elementos arquitetónicos elaborados. Uma nave e nada mais. Talvez mais
interessante, do ponto de vista histórico, por isso mesmo. Até porque o
ascetismo com que o espaço foi pensado vai a par com o austeridade dos dias que
vivemos…
Verdade se diga que, apesar das
referências escritas, várias vezes duvidámos da existência da igreja de
Santiago, ao ponto de pensarmos ser a alusão ao templo fruto de um qualquer
equívoco. A localização é, contudo, perfeita: dentro do perímetro fortificado e
junto à porta da alcáçova. Estamos perto, muito perto, do local da antiga
mesquita de Moura. As sacralizações destas são, por norma, feitas através do
nome de Santa Maria, mas os exemplos de locais de culto muçulmanos convertidos
em igrejas de S. João, do Espírito Santo ou, até, de Santiago não faltam.
Encontrar uma mesquita no meio dos restos dos enterramentos cristãos e numa
área muito refeita após meados do século XIII seria ter uma sorte pouco comum.
Provavelmente, não teremos essa fortuna.
Como sugeriu uma amiga “ainda vão
dizer que inventaste o nome da igreja, só para ser o teu”. É pouco provável que
o digam, mas essa parte é aquela que ao José Gonçalo, à Vanessa e a mim menos
interessa. A campanha está ganha e o modelo da ocupação medieval do castelo
fica, a cada dia, mais claro. Esse é o dado essencial.
Crónica publicada no jornal "A Planície" de 6 de agosto de 2012
Pequena legenda da fotografia:
1 - À esquerda deste número identifica-se uma pequena estrutura quadrangular, que pensamos ter sido um altar;
2 - Local onde se encontrou a moeda da primeira metade do século XIV;
3 - Enterramento com moeda associada (ceitil de D. Afonso V);
4 - Enterramento com moeda associada (ceitil de D. Afonso V);
Parabéns e continue. Há sempre cépticos e invejosos.
ResponderEliminarDesejo êxito
Hans
Parabéns à equipe… excelente trabalho… boa continuação… … “Fortuna” para a mesquita… :)
ResponderEliminarHUM...FELIZ EM PODER RECEBER ESTAS NOTICIAS SOBRE O NOSSO PATRIMÓNIO E DA AVENIDA.
ResponderEliminarUM BEM HAJA BOA EQUIPA DA QUAL SERIA UMA HONRA FAZER PARTE. BEIJINHOS SEGUIR EM FRENTE COM MUITA SORTE É O QUE DESEJO
Igreja de Santiago??? Mais uma coisa estranha, é que andamos numa agora de esquesitisse!!!!!Gosto do nome...
ResponderEliminarGostava de ver essa "limpeza e estabilização", não me digam que destruíram mais uma, metendo-a cor de laranja ou cor de rosa...
ResponderEliminarSantiago,
ResponderEliminarparabéns pela identificação da igreja DO Santiago! Se aparecerem capitéis ou elementos decorativos góticos, dá uma apitadela. Gostaria de os ver.
Votos de uma boa campanha, que pelos vistos promete! Um abraço
Paulo Fernandes
Parabéns à equipa e aos mourenses que conhecem agora mais um "pedaço"da sua história. Lígia Rafael
ResponderEliminarUm forte abraço para o Santiago e muitos parabéns a toda a equipa, que, passo a passo vai descobrindo recantos e referências há muito escondidas, desta nossa bela cidade de Moura.
ResponderEliminarPaulo Rosa