ALGUMAS
PERGUNTAS E ALGUMAS RESPOSTAS SOBRE DUAS CEREJAS
Na última edição deste jornal podia ler-se, na última página, uma
nota onde o meu nome era expressamente referido. A que propósito? Por causa das
intervenções em curso em vários locais da cidade, aos quais o meu trabalho como
vereador da Câmara Municipal está associado. As quais incluem a componente
arqueológica no castelo de Moura, projeto iniciado num já longínquo 1989.
O tom era simpático e mencionavam-se (cito de memória) o meu
“empenho” e “dedicação”. Concluía-se que a cereja em cima do bolo seria a
reabilitação do convento do castelo.
Ainda que as palavras de “A Planície” sejam lisonjeiras, convém
clarificar que não há vitórias solitárias nem salvadores da pátria. As vitórias
e os avanços conseguidos, bem como os aspetos menos conseguidos e as derrotas,
são assumidos coletivamente. E envolvem os colegas da vereação, os
trabalhadores da Câmara Municipal e as equipas internas e externas com as quais
temos trabalhado.
Reabilitar o Convento das Dominicanas seria a cereja em cima do
bolo? É verdade.
Então porque não se reabilita? Primeiro, porque o trabalho de
reforço das estruturas foi feito há cerca de seis anos e orçou em quase 500.000
euros (financiamento governamental: zero), depois porque é necessário
desenvolver um projeto para o imóvel, encontrando-lhe um uso adequado e
financiando as suas obras. Com tantas obras a decorrer e com a especificidade
desta intervenção, isso não seria possível.
O Convento será um museu? Não me parece que seja esse o uso
adequado, uma vez que há programas com
esse fim noutros edifícios.
Qual o prazo estimado para a
reabilitação do Convento? E quais os custos? A manterem-se as condições atuais
de financiamento das autarquias e com o garrote a apertar não é viável pensar
que o edifício possa estar recuperado antes de 2017 ou 2018. Os valores não
serão inferiores a 3 milhões de euros. E recordemos que antes disto está a
recuperação do antigo grémio da lavoura, que defendo como a próxima grande
intervenção.
É essa a única cereja que falta no âmbito da reabilitação do
património da cidade? Não é. Para além da futura biblioteca (excluída deste
pacote por estar fora da área geográfica que justificou o pacote de obras em
curso) temos ainda o Convento do Carmo.
Porque não avança o Convento do Carmo? Porque não se conseguiu
ainda, arranjar a parceria para o fazer. E porque os valores envolvidos – a
reconversão em unidade hoteleira, por exemplo, não é possível por menos de 5/6
milhões de euros – são significativos. Numa altura de retração do investimento
mais difícil a tarefa se torna.
O Convento do Carmo vai ser um hotel? É das possibilidades, mas não
a única. Depois de cometida a inacreditável estupidez de se ter de lá tirado o
centro de saúde é preciso adequar o espaço a novas funções. Por favor,
poupem-me a modelos de gestão do género “centro cultural”, “universidade”,
“museu” etc. Façam-se contas, veja-se o País em que vivemos e calculem-se
futuras amortizações antes de se fazerem propostas.
São tarefas fáceis? Não são. Por isso mesmo se tornam mais
interessantes e o desafio é maior. Por isso mesmo me/nos empenhamos nestes
projetos.
Há outras propostas concretas e fundamentadas (não me refiro a
sugestões e hipóteses) para o Convento do Carmo? Venham de lá elas. Se forem
viáveis não haverá um segundo de hesitação.
Devia a Câmara ter assumido a tarefa de chamar a si o Convento do
Carmo? Claro que sim. Do interesse do Poder Central nestas matérias estamos
conversados. Pelo que, das duas uma: ou fingiamos não ver o problema ou o atacávamos,
ainda que sem a certeza de um sucesso. Ficar imóvel e à espera em nada nos
ajuda.
Uma nota final sobre estas e outras cerejas: tenhamos em mente que
vivemos em Portugal, um país pobre e periférico, e que a nossa região tem
particulares dificuldades. Não vale a pena pensarmos que somos a Noruega ou a
Alemanha. Os investimentos feitos tiveram essa realidade em conta, pelo que não
haverá obras para encher o olho, mas sem conteúdo, nem elefantes brancos que se
convertem em sorvedouros de dinheiro. O futuro será pelo mesmo caminho.
Texto publicado em "A Planície" do passado dia 1 de setembro. Está em causa a futura reabilitação de dois imóveis de grande importância na vida, e no passado, da cidade.
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