Soube hoje, pela imprensa, que faleceu o designer Robin Fior. Trabalhei com ele, em 1994/95, num projeto gráfico que lhe fora encomendado pela Direção-Geral de Turismo e do qual eu era responsável no Campo Arqueológico de Mértola. A DGT, através do Fundo de Turismo e com o apoio decisivo de Alexandre Relvas, Alberto Marques e Teresa Ferreira, lançou um programa de divulgação patrimonial e de incremento das infra-estruturas museológicas. Foi uma experiência importante, tanto do ponto de vista coletivo como pelo que me permitiu aprender.
Na fase de lançamento do projeto entra-nos pela porta dentro o Robin Fior. Como todos (todos mesmo todos) os britânicos falava português deliciosamente mal. Embora vivesse em Portugal há mais de 20 anos. Tinha um estilo um pouco soixante-huitard. O ar distraído e a forma um pouco desordenada de nos expôr as questões e de nos pedir a documentação para o design da brochura causavam funda preocupação em Cláudio Torres. Que me perguntou, mais de uma vez "achas que isto chega a algum lado?". Chegou, claro, e o Robin fez um trabalho de elevada qualidade, num projeto que foi um marco na vida do CAM.
A grande surpresa foi saber que o logotipo do MES (Movimento de Esquerda Socialista, um grupo radical e de intelectuais, um pouco o BE de 1974/75) é da autoria de Robin Fior. As coisas são assim e as pessoas perpetuam-se, ainda que não seja para sempre, naquilo que fizeram, no modo como o fizeram e na forma como ensinaram outros. É algo que posso testemunhar, em relação aos meses de trabalho com o Robin.
De todos os projectos de valorização patrimonial e divulgação turística que a Secretaria de Estado do Turismo lançou em 1994/95, pela mão de Alexandre Relvas, foram os Itinerários Arqueológicos do Alentejo e Algarve e o Projecto Integrado de Mértola - ora lembrados pelo Santiago Macias - aqueles que maior sensibilidade e complexidade evidenciaram. Quem, então, seleccionar para conceber um suporte gráfico que reunisse os atributos bastantes para explicar o objecto e a finalidade do projecto? A escolha recaíu, em boa hora, no Robin Fior. Homem de grande cultura, muito saber fazer e enorme sentido de humor, para quem o processo de criação era tão importante como o resultado, Robin Fior via mais longe e mais fundo. Neste projecto - assim como noutros em que tive o imenso gosto em partilhar o seu brilho, respeitar os seus tão eloquentes silêncios e surpreender-me com soluções que pareciam tardar em surgir - Robin, sem nunca se exibir, conseguiu fazer com simplicidade e inteligência o que de mais importante havia a mostrar: a intemporalidade da herança cultural.
ResponderEliminarPara muitos, como para mim, foi um tempo de aprendizagem. Por tudo, estou certo que o Robin Fior jamais se ausentará da memória daqueles que com ele conviveram.