Quem ontem (dia
26.9) tiver assistido a um dos telejornais da TVI 24 teve a rara oportunidade
de presenciar ao vivo um arremedo do que pode vir a ser o futuro. Um aluno
vaiou e insultou o primeiro-ministro à entrada do Instituto Superior de Ciências
Sociais e Políticas. O moço, ingénuo e, decerto, com escassa preparação
política, caiu em duas esparrelas: tomar a iniciativa sozinho, à campeão, e não
resistir à tentação, fácil e estúpida, do insulto. A coisa deveria ter ficado
por aí. Ou, melhor, o aluno deveria ter sido alvo de procedimento disciplinar,
se fosse caso disso. O pior é que não ficou por aí. Um dos gorilas do PM
intimou o aluno com um “venha à rua!”. O estilo é ordinário, no género rufia de
bar rasca. O jovem deveria ter recusado e armado barraca. Os colegas do jovem
deveriam tê-lo ajudado em vez de se acagaçarem e virado costas. Sei bem o que o
jovem terá sentido, porque me aconteceu o mesmo – não vaiar o primeiro-ministro
mas ser deixado só, num momento de aperto. Claro que o jovem aprendeu coisas
importantes, naqueles breves instantes. A mim aconteceu-me o mesmo.
A cena continuou com um agente da PSP, a chegar
perto do moço para o identificar. Aquilo não se prolongou muito, mas deu para
perceber várias coisas. Há alunos que não sabem, e deveriam saber, que as
forças policiais não podem entrar, assim à toa, no espaço da Universidade. Os
alunos não sabem que podem, e devem, resistir a intimidações de gorilas. Coisas
básicas, mas que precisam de prática política. Mais importante e decisiva que
aquilo das capas e das praxes.
A TVI 24 prestou
um bom serviço jornalístico? Não foi bom, foi péssimo. Porque em vez de
denunciar a atitude repressora – o fascismo vem com pezinhos de lã, dizia
Sérgio Godinho – preferiu colocar a tónica da notícia no facto do gorila não
querer que o operador de câmara lhe filmasse a cara. Só excecionalmente o
jornalista é o sujeito da notícia. E naquele caso estava longe de o ser.
Quando não há outra razão, surge a da força. Os
pequenos tiques multiplicam-se e são motivo de preocupação.
Esta crónica é dedicada a José Orlando Infante.
Fui colega dele na Câmara de Moura. Ele foi meu chefe no Corpo Nacional de
Escutas, há uns bons 40 anos. Eu tinha então 9, ele 16 anos, o que fazia com
que me parecesse velhíssimo. Não era um chefe nada formal. Muito menos era dado
a autoritarismos, o que sempre me fez ter saudades do estilo distraído com que
dirigia os seus lobitos. Nos últimos 7 anos mantivémos contacto próximo, sendo
eu vereador da área onde ele trabalhava. Nunca lho disse, mas aquela longínqua
relação hierárquica causava-me um profundíssimo embaraço e, ao longo destes
anos, nunca lhe consegui dar uma indicação direta, sendo obrigado a usar vários
subterfúgios. Nunca lho disse e, agora, já não direi, porque o José Orlando
partiu há dias, cedo demais e de forma inesperada. Como me afirmava o Vítor,
durante as cerimónias, “era uma pessoa importante”. Para mim foi-o e continuará
a ser. Para muita gente em Moura também. Como foi
visível naquele final de tarde.
Crónica publicada em "A Planície" de 1.10.2012
Obrigada pela homenagem. Ainda não tinha tido oportunidade de lhe agradecer, por isso faço-o aqui. Também nós ficámos orgulhosos por ver tantos amigos que o meu Pai tinha e que o acompanharam na última despedida.
ResponderEliminarObrigada,
Sara Infante