domingo, 4 de novembro de 2012

A CAÇA

Hesitei no título do post. Estive tentado a chamar-lhe a verdade oculta ou algo assim. Porquê? Porque a versão final desta curta-metragem de Manoel de Oliveira teve dois tempos. Leia-se a explicação:

"A Caça é, a esse propósito (Censura), um caso mais particular porque o subsídio (Fundo) foi atribuido à Tobis Portuguesa e a direcção da Tobis queria fazer o filme impondo-me condições económicas que eu não podia aceitar. Propus então receber o dinheiro do filme, poder beneficiar dos descontos do laboratório e assegurar a responsabilidade da produção. Aceitaram, e impuseram-me como única condição, a de figurar no genérico, por uma questão de prestígio, o nome da Tobis Portuguesa como produtora. Tornei-me, assim, o verdadeiro produtor do filme, e recebi directamente o dinheiro do Secretariado Nacional da Informação. Foi nessa ocasião que os homens do SNI me impuseram a alteração do fim do filme, salvando o homem da mão amputada e o jovem que se afunda no pântano, como se lhes parecesse que salvavam o regime em vias de se afundar. Por isso se mostravam irredutíveis. Como o filme já estava rodado e eu devia dinheiro, ameaçavam-me de não me entregar o subsídio prometido se não fizesse as alterações exigidas. Fui, pois, forçado a aceitar. Durante muito tempo, deixei o filme tal e qual, a fim de que, de cada vez que fosse levado a apresentá-lo pudesse explicar a censura. Presentemente, retirei aquele final (1988, por ocasião da XXIV Mostra Internazionale del Nuovo Cinema - Pesaro). E introduzi uma legenda indicando: "Eis o final imposto". Não é uma vingança da minha parte. É uma questão histórica, é muito importante para dar uma ilustração da censura na época."
Antoine Baecque, Jacques Parsi, Conversas com Manoel de Oliveira, ed. Campo das Letras, Porto, 1999

Do filme emana uma angústia quase expressionista. À medida que a trama progride acentua-se a inevitabilidade da tragédia e o absurdo da situação. A caça, de 1964, não é muito visto fora dos círculos cinéfilos. É mais um filme a juntar à lista dos que vi, em tempos, na RTP2. É mais um dos meus filmes preferidos. Daqueles do topo da lista. O que aqui se propõe é o visionamento integral (21 minutos):



Mais sobre A caça em http://www.amordeperdicao.pt/basedados_filmes.asp?filmeid=63

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