segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

ESCRITA EFÉMERA

Foi notícia, há uns anos, o incidente ocorrido num museu de arte contemporânea. A senhora da limpeza, ao chegar de manhã cedo, deparou com um cenário estranho no átrio de entrada: vidros partidos, areia e fragmentos de moldura, em madeira. Pegou nos apetrechos de trabalho e enfiou tudo aquilo no caixote do lixo. O problema veio depois... Aquilo era uma "instalação". Não sei como o artista terá reagido mas, no lugar dele, teria considerado o gesto da senhora como parte integrante do ato criativo. O conceito de pathos parece-me adequado.

Lembrei-me do que aconteceu, há semanas, durante uma reunião na Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas. Numa das paredes estava um quadro, daqueles de sala de aula, assinado por muitos escritores. Ao lado, figurava o aviso: "Atenção!! Este quadro é um original. Por favor, não limpar". Para que a escrita, já de si ato efémero, não se torne ainda mais efémera.

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