quarta-feira, 26 de junho de 2013

TORRE DE MENAGEM – NOVOS DADOS E NOVAS HIPÓTESES

Fomos, desgraçadamente, um País pouco dado ao registo escrito. As razões são de vária ordem e dariam para muitas páginas. Deixemos isso para outra altura. Interessa agora fazer uma breve reflexão sobre a torre de menagem do castelo de Moura, sobre a qual persistem, ainda, muitas dúvidas. Quando foi construída? Quem a mandou construir? Que remodelações sofreu? 

O que se sabe? Apenas que, em 1320, D. Dinis manda proceder a uma recolha de fundos para financiar o refazimento do alcácer de Moura. Daí para a frente, o silêncio é completo. Quando Duarte Darmas desenha a então vila de Moura, nos inícios do século XVI, a torre já lá está. Ou seja, temos quase 200 anos para situar o monumento. Um lapso de tempo demasiado grande.

Se olharmos a forma de organização do espaço interno da sala da torre verificamos que a mesma apresenta algumas semelhanças com o piso inferior da torre de menagem do castelo de Beja:

·      Fenestração rasgada em três muros, com um acesso à janela que se vai progressivamente estreitando;
·      Arranque da escada helicoidal a partir de um muro traçado de forma oblíqua em relação à linha exterior do edifício;
·      Desenho quandrangular da estrutura, dentro da qual se inscreve um octógono (mais evidente em Moura que em Beja)

Ou seja, parece admissível que a conclusão da torre de menagem tenha tido lugar em finais do século XIV, cronologia atribuída à torre do castelo de Beja. Até do ponto de vista político esta hipótese faz algum sentido, uma vez que o final de Trezentos foi marcado pela consolidação do poder régio e pela ascensão aos círculos do poder de uma nova nobreza, que herda os bens da nobreza rural ou que os obtém do monarca à custa da sua fidelização.

Esta hipótese foi, recentemente, reforçada pela descoberta de uma inscrição, datável da segunda metade do séc. XIV, numa coluna onde, segundo o meu colega Saul Gomes, da Universidade de Coimbra, se lê: COMCELHO DE MOURA. A inscrição ganha mais força, se tida em consideração no contexto acima referido.

Uma curiosidade à margem deste tema é a do erro que o desenho de Duarte Darmas apresenta. Ou seja, a torre que está reproduzida no célebre “Livro das Fortalezas” não é a de Moura…

Veja-se o desenho:

·      A torre representada no desenho apresenta um conjunto de janelas em todas os muros, estando essas janelas organizadas de forma escalonada, ficando-se com a ideia que haveria uma escada a acompanhar a caixa murária, numa organização semelhante à da torre de menagem do castelo de Mértola. Nem a torre atual tem aquelas janelas, nem a escada acompanha os muros.
·      A porta de acesso à torre de menagem situava-se, na planta da alcáçova, perto do seu vértice noroeste, e em local oposto ao atual.

Dados novos, em suma: a torre deve ter sido concluída apenas no reinado de D. João I, em finais do século XIV ou em inícios do XV; a torre representada por Duarte Darmas está errada, facto que não é inédito nas representações do conhecido desenhador. Novos dados e novas hipóteses numa História em permanente reconstrução.


Crónica publicada em "A Planície" de 15.6.2013

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