O
que se sabe? Apenas que, em 1320, D. Dinis manda proceder a uma recolha de
fundos para financiar o refazimento do alcácer de Moura. Daí para a frente, o
silêncio é completo. Quando Duarte Darmas desenha a então vila de Moura, nos
inícios do século XVI, a torre já lá está. Ou seja, temos quase 200 anos para
situar o monumento. Um lapso de tempo demasiado grande.
·
Fenestração rasgada em três muros, com
um acesso à janela que se vai progressivamente estreitando;
·
Arranque da escada helicoidal a partir
de um muro traçado de forma oblíqua em relação à linha exterior do edifício;
·
Desenho quandrangular da estrutura,
dentro da qual se inscreve um octógono (mais evidente em Moura que em Beja)
Ou
seja, parece admissível que a conclusão da torre de menagem tenha tido lugar em
finais do século XIV, cronologia atribuída à torre do castelo de Beja. Até do
ponto de vista político esta hipótese faz algum sentido, uma vez que o final de
Trezentos foi marcado pela consolidação do poder régio e pela ascensão aos
círculos do poder de uma nova nobreza, que herda os bens da nobreza rural ou
que os obtém do monarca à custa da sua fidelização.
Esta
hipótese foi, recentemente, reforçada pela descoberta de uma inscrição, datável
da segunda metade do séc. XIV, numa coluna onde, segundo o meu colega Saul
Gomes, da Universidade de Coimbra, se lê: COMCELHO DE MOURA. A inscrição ganha
mais força, se tida em consideração no contexto acima referido.
Uma
curiosidade à margem deste tema é a do erro que o desenho de Duarte Darmas
apresenta. Ou seja, a torre que está reproduzida no célebre “Livro das
Fortalezas” não é a de Moura…
Veja-se
o desenho:
·
A torre representada no desenho
apresenta um conjunto de janelas em todas os muros, estando essas janelas
organizadas de forma escalonada, ficando-se com a ideia que haveria uma escada
a acompanhar a caixa murária, numa organização semelhante à da torre de menagem
do castelo de Mértola. Nem a torre atual tem aquelas janelas, nem a escada
acompanha os muros.
·
A porta de acesso à torre de menagem
situava-se, na planta da alcáçova, perto do seu vértice noroeste, e em local oposto ao atual.
Dados novos, em
suma: a torre deve ter sido concluída apenas no reinado de D. João I, em finais
do século XIV ou em inícios do XV; a torre representada por Duarte Darmas está
errada, facto que não é inédito nas representações do conhecido desenhador.
Novos dados e novas hipóteses numa História em permanente reconstrução.
Crónica publicada em "A Planície" de 15.6.2013
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