Magritte no Alentejo, via Zambrano Gomes. Uma sugestão do meu amigo Luís Moreira.
O guarda-chuva é um pretexto para reproduzir o poema de João Cabral de Melo Neto, que o dedicou a Carlos Drummond de Andrade. O poema andou por aqui há menos de um ano.
Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo de regiões onde tudo é surpresa
como uma flor mesmo num canteiro.
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre.
Não há guarda-chuva
contra o tédio:
o tédio das quatro paredes, das quatro
estações, dos quatro pontos cardeais.
Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.
Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa, correnteza
carregando os dias, os cabelos.
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