Foi em meados da década de 90, pouco depois do tema Foz Côa emergir na arqueologia nacional e internacional. O Presidente da Câmara de um município do sul de Portugal convidou-nos (ao Cláudio Torres e a mim) para opinarmos sobre uma conhecida estação arqueológica do seu concelho. A história do local era antiga e o futuro do sítio era, sobretudo, um passado cheio de peripécias.
No meio da conversa percebeu-se que o Presidente não depositava grandes esperanças em que lhe dava assessoria na área do Património. A dada altura, eu tentava explicar que uma das dificuldades daquela estação era a sua escassa visibilidade, dando o exemplo de Foz Côa: "é que as gravuras tornaram-se, sem dúvida, uma questão mediática". A técnica reagiu com veemência "peço desculpa, mas para mim o problema deste concelho é muito mais imediático; ou deitamos mão ao sítio arqueológico ou depois já é tarde…". O Presidente olhou-a obliquamente, enquanto repetia, a meia voz "mediático, minha senhora, mediático".
O problema arrastou-se, durante mais dez anos, até surgir alguém com um domínio mais pragmático dos temas do Património. E com outros conhecimentos de Língua Portuguesa.
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