Vista parcial do recinto
Intervenção na inauguração (cf. infra)
Deposição de coroa de flores na lápide de homenagem aos militares falecidos na Guerra Colonial
Descerrando a placa de inauguração.
Da esquerda para a direita: Francisco Cerejo (Pres. da Assembleia Municipal), o autor do blogue, José Maria Pós-de-Mina (ex-Presidente da Câmara) e Nuno Vassallo e Silva (Diretor-Geral do Património Cultural)
Texto da placa
Senhor Diretor-Geral do Património Cultural
Senhor Presidente da Assembleia Municipal
Senhores Vereadores
Senhores Autarcas
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Almeida
Caros conterrâneos
A aparente impossibilidade das coisas é,
provavelmente, o seu maior desafio. É algo que se desloca sobre nós, como uma
sombra que jamais se desvanece. Há sonhos à nossa frente, que se movem e nos
escapam. Ou tentam escapar. Como tantos outros jovens da minha geração, fui
assombrado pelos últimos parágrafos de “Os Maias”, de Eça de Queirós.
Recordo-vos a passagem:
“A lanterna vermelha do “americano”, ao longe, no
escuro, parara. E foi em Carlos e em João da Ega uma esperança, outro esforço:
- Ainda o apanhamos!
- Ainda o apanhamos!
De novo a lanterna deslizou, e fugiu. Então, para
apanhar o “americano”, os dois amigos romperam a correr desesperadamente pela
rampa de Santos e pelo Aterro, sob a primeira claridade do luar que
subia."
Muitas vezes, ao longo da vida, me tenho recordado
desta passagem. Muitas outras tenho tentado, como tantos de nós, alcançar o que
nos escapa, procurar cumprir metas traçadas, fazer de alguns sonhos realidade.
Disse um dia a um velho amigo da Câmara Municipal que poderia ir-me embora no
dia em que começassem as obras de reabilitação dos Quartéis. O destino tinha, contudo, outros planos e
acabo por presidir à cerimónia de inauguração deste edifício.
Os Quartéis têm uma forte carga simbólica. Foram
construídos no século XVIII com um importante contributo dos mourenses. Que é o
mesmo que dizer que foram feitos com o esforço e com a generosidade dos nossos
antepassados. Foram os habitantes desta terra quem fez nascer este edifício. A
eles pertence e pertencerá.
Gostaria de deixar uma palavra de apreço ao arq. Pedro
Ângelo, da Câmara Municipal de Moura, que concebeu o projeto de reabilitação; ao
eng. Vitor Vajão, que desenhou a iluminação do edifício; aos arqs. João Nunes e
Carlos Ribas, da PROAP, que projetaram toda a zona envolvente aos Quartéis.
Mas, acima de tudo e de todos, é importante recordar os que estiveram nesta
terra antes de nós, que garantiram a conservação deste edifício e que
permitiram que, trezentos anos após a sua construção, ele ainda aqui esteja. Os
que mantiveram estes Quartéis, até há bem pouco tempo, não eram nem arquitetos,
nem engenheiros, nem urbanistas, nem arqueólogos, nem presidentes de Câmara.
Eram pessoas do povo desta nossa cidade. Que viveram nestes Quartéis em
condições extremamente precárias e que, ainda assim, e provavelmente sem o
saberem, foram os primeiros a respeitar a integridade do edifício e a permitir
que ele tivesse resistido no tempo.
Chegamos aqui depois de um percurso de vários anos.
Vale a pena recordar que este momento não é um acaso. É muito mais do que isso.
Faz parte de um plano de recuperação da zona mais antiga da cidade, levado a
cabo desde 2006. Fez e faz parte de um plano que tomou como elementos de
trabalho edifícios em condições de serem reabilitados e que seriam, e foram,
usados como ponto de partida e como ponto de chegada. Foi esse o plano traçado
e concretiado pelas vereações de que fizeram parte Rafael Rodrigues, Maria José
Silva e José António Oliveira. E eu próprio. É mais que justo referir aqui o
nome de José Maria Pós-de-Mina. Pelo papel que teve como Presidente da Câmara
ao longo desses anos. E pelo facto, politicamente relevante, de nunca ter
regateado apoio a estes projetos. Estivémos sempre lado a lado neste caminho,
num percurso solidário e de aprendizagem mútua. Nesse percurso que trilhámos
encontramos o Jardim das Oliveiras, a igreja de S. Francisco, a Mouraria, o
Convento das Beatas ou o Pátio dos Rolins. São sítios conhecidos de todos. São
locais por onde passamos todos os dias. São os mesmos locais que os nossos avós
e os nossos pais conheceram. São os mesmos sítios que aqui ficarão, no dia em
que já tivermos partido. Mais importante do que todos nós é esta nossa querida
cidade, as ruas e os largos onde vivemos e de que tanto gostamos.
Na placa que dentro de momentos irá ser descerrada e
que irá assinalar este dia não consta nenhum nome. Isso é dispensável. A única
referência que ali está é ao povo de Moura. Quando há dias me perguntavam se
iria estar presente alguma pessoa importante nesta cerimónia respondi, com toda
a convicção, “vão estar lá pessoas muito especiais; vão lá estar os mourenses”.
Mantenho vivas toda a esperança e toda a confiança de que seremos capazes de
honrar e continuar este legado tão especial. Abre-se agora espaço à
criatividade dos que irão ocupar estes Quartéis. Os bares, os espaços
comerciais, as sedes de associações são peças fundamentais numa área que se
quer viva e dinâmica. Que será, disso estou certo, viva e dinâmica.
Até à data, infelizmente, ainda não conseguimos ter
pronto o museu que tanto gostaríamos. Mas lá chegaremos. A recuperação do
Matadouro, já com o fim mais à vista, permite-nos sonhar um pouco mais. Tenho presente
uma expressão de José Mattoso, que foi meu professor, há mais de 20 anos.
Referia-se ele à “infinita liberdade do espírito”. É essa infinita liberdade do
espírito que nos levará mais além e mais longe. Faltam coisas? Faltam sempre
mais coisas, porque é normal que queiramos sempre mais e melhor. Depois do
Matadouro de Moura ainda há projetos a lançar? Há, não tenham dúvidas.
Diziam-nos há dias que estamos a colocar a fasquia demasiado alta. Não estamos
nada. Estamos a colocar a fasquia exatamente onde Moura merece. Nada mais. O
que se segue? Agora segue-se o futuro. A conclusão da zona industrial em Moura
e o lançamento de novas infraestuturas de apoio à atividade económica, na
Amareleja. Seguem-se as habitações sociais no Pátio dos Rolins, a recuperação
do Bairro do Carmo, a instalação da Biblioteca no antigo Grémio da Lavoura.
Mais a conclusão do Paque de Leilão de Gado, o finalizar da obra da Ribeira da
Perna Seca, no Sobral, mais a Ribeira de Vale de Juncos e o Pavilhão das
Cancelinhas, na Amareleja. Tal como garantimos, há anos, que cumpririamos a
reabilitação de imóveis como este, daremos agora espaço a outras intervenções.
Já demonstrámos que não desistimos. Que não desistiremos. Espera-nos, ao virar
da esquina, o futuro.
* * * * * * *
É devido um agradecimento muito particular, e tal como referi no início da intervenção, à Sociedade Filarmónica União Mourense Os Amarelos, ao Grupo Coral e Etnográfico do Ateneu Mourense, às Brisas do Guadiana e ao grupo musical Margem do Alqueva.