É um dos edifícios mais emblemáticos da Amareleja.
Tem o charme que têm todas os edifícios que ficaram por acabar. Tem personalidade e tem o peso do tempo.
O edifício da torre do relógio tem sido usado, de forma esporádica. A falta de uma cobertura e de outras condições faz com que seja utilizado sem regularidade. É possível fazer de outro modo? É possível fazer mais e melhor.
Enviei, há dias, uma proposta à Comissão Fabriqueira da Amareleja e ao Bispo de Beja tendo em vista uma intervenção no imóvel. D. António Vitalino Dantas manifestou-me,há semanas, disponibilidade e abertura para discutir esse processo. Este tipo de decisões cabe, em última análise e como é evidente, à entidade proprietária. Entendo,como Presidente da Câmara, que tenho a responsabilidade de avançar com uma proposta (o que fiz) e de liderar um processo de reabilitação. Tal como fizémos com outros projetos, temos intenção de trabalhar para resolver este assunto. Que ninguém duvide disso.
O poema de Mário Dionísio (1916-1993) não tem a ver com o local. Mas é um bonito texto e tem a ver com uma casa deserta.
CASA DESERTA
Ah nada pior que a casa deserta,
sozinha, sozinha.
O fogão apagado e tudo sem interesse.
O mundo lá longe, para lá da floresta.
E o vento soprando
e a chuva caindo
e a casa deserta...
Ah nada pior que estes dias e dias,
de cachimbo aceso, com as mãos inertes,
com todas as estradas inteiramente barradas,
ouvindo a floresta.
Com tudo lá longe, na casa deserta,
ouvindo eternamente o vento soprando
e a chuva caindo, na noite, caindo...
Há uma cancela de madeira que ginga nos gonzos.
E um velho cão de guarda que ladra sem motivo.
Parece que é gente que vem a entrar.
E é só o vento soprando, soprando,
e a chuva caindo...
Mudaram muita vez as folhas da floresta.
E os olhos do homem são olhos de doido.
Fogão apagado, aceso o cachimbo, o mundo lá longe.
Ah nada pior que a casa deserta,
cheia dum sonho imenso que ficou na cabeça.
A casa deserta na noite deserta.
E o vento soprando
e a chuva caindo
e a casa deserta...
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