terça-feira, 27 de janeiro de 2015
A MAIS BELA PRAÇA DE TOUROS DO MUNDO
Nunca lá estive, mas tenho a certeza que esta é a mais bela praça de touros existente em todo o mundo. Na caldeira de um vulcão já extinto, rodeada por escarpas e pela vegetação, a praça de touros situada no Monte de Nossa Senhora da Ajuda, na ilha Graciosa, é um prodígio de imaginação e de pragmatismo.
Surge aqui como forma de assinalar uma temporada que está mesmo a começar. Farei os possíveis e os impossíveis para regressar a Olivença. Fala-se em Talavante e El Juli. José Tomás é que era, mas pronto...
Celebrem-se, pois, as tradições. E o vigor da cultura mediterrânica.
segunda-feira, 26 de janeiro de 2015
SYRIZA, ESQUERDA E TAL
"Karamanlis ou os blindados", proclamava-se em Atenas, em 1974. Ou seja, se a Nova Democracia não ganhasse as eleições, regressaria a ditadura. Konstantinos Karamanlis (1907-1998) acabou por liderar o processo de democratização da Grécia.
Samaras tentou a tática do medo, pintando o Syriza de vermelho. Agitaram-se espantalhos norte-coreanos. Já se imaginavam os jovens gregos desfilando na Praça Syntagma, cantando em coro "é tão bela a nossa vermelha Acrópole"...
Caaaaalmaaaa... Não vai acontecer nada de substancial. Tsipras vai dar uma de realpolitik. O resto são coisas que dão para umas momentâneas excitações noticiosas e nada mais.
Texto de Miguel Esteves Cardoso, no "Público":
Hoje é um dia importante. Espero
que o partido Syriza ganhe as eleições com maioria absoluta. Alexis Tsipras é
inteligente, corajoso, grego e europeu: não quer que a Grécia deixe de usar o
euro.
Se ganhar com maioria, fará
frente à União Europeia e defenderá uma união financeira que ajudará os países
mais pobres, como Portugal.
Portugal não pode continuar a
fingir que é diferente da Grécia. Não é. A Espanha, maior, também sabe que faz
parte do mesmo grupo do savoir vivre que inclui a Itália inteira e quase
toda a França.
A verdade é que existe — e
sempre existiu — uma Europa do Sul, em que cada país se dividiu, inutilmente,
entre Norte e Sul.
Se o Syriza ganhar (ou perder),
devemos abraçá-lo e solidarizarmo-nos com ele. As eleições nacionais são a
última afirmação da escolha política.
Poderia haver na Grécia um
partido que, ao contrário do Syriza, quisesse sair do euro e voltar ao drachma,
poupando biliões. Até há. Mas não têm hipótese de ganhar.
Os poderes do Norte da União
Europeia querem dividir-nos e obrigaram-nos a competir entre nós, para
descobrirmos quem é o escravo mais cumpridor.
Não há maior beleza do que a
união política dos pobres e devedores. Obrigarmo-nos a ser de direita ou de
esquerda é a mais horrenda manobra divisionista.
Hoje é domingo e a eleição na
Grécia atira-nos para o silêncio. Isso é que era bom. Hoje queremos que ganhe o
Syriza e, por conseguinte, as opiniões portuguesas que ainda sonham com um
mínimo de liberdade.
Assim seja.
domingo, 25 de janeiro de 2015
MÉRTOLA, 1962
Do texto do documentário da RTP sobre as localidades em torno do Guadiana: "É uma vila do Baixo Alentejo, rica de recordações históricas. Se não fora o acesso difícil, através de uma região desarborizada, esta povoação poderia ser romagem obrigatória de arqueólogos e de turistas curiosos". Infelizmente, o documentário é apresentado sem ficha técnica. Ficamos sem saber quem teve o acertado pressentimento.
À MESA, COM ANTOINE WESTERMANN
A iniciativa, do Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo, tinha como objetivo justamente promover o azeite alentejano. Convidado de honra? Antoine Westermann, figura habitual dos Guias Michelin e nome ligado ao Hotel Fortaleza do Guincho. A função decorreu no Tomba-Lobos, à saída de Portalegre.
Um senhor descomplicado e de gestos calmos. Achei curioso que se interessasse pelos peixinhos da horta - que lhe traduzi, de forma aproximada, como poissons du potager - e ainda mais quando se apercebeu das razões de ser do prato, mais uma das muitas originalidades da nossa culinária. Tal como se interessou pela origem persa da palavra escabeche, trazida até nós pelos árabes como as-sikbaj.
No fim, Antoine Westermann saudou José Júlio Vintém com um sorridente je me suis régalé. Isso mesmo.
O encontro foi ótimo. Que o azeite alentejano se sai muito bem, disso não duvidemos.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2015
JOSÉ NELA - V
CASA.DOS.IRMAOS
FUNDADA.A.BEM.DE.TODOS
HAJA.PAZ.E.UNIAO
Último post da série José Nela.
O quadro é de 1972 e está assinado J. Nela. O quadro na parede repete a cena que vemos em primeiro plano. Um pormenor delicioso. As perspetivas não são as que mandam as regras de geometria? E isso que importa? O resto está tudo mais que certo. A começar pelas colagens e pelo tom feérico e popular. Continuando no ambiente de um tipo de comércio que todos nós conhecemos. E terminando na legenda ao estilo de ex-voto, que era imagem de marca deste pintor.
Viva José Nela, pintor da minha terra!
O quadro é de 1972 e está assinado J. Nela. O quadro na parede repete a cena que vemos em primeiro plano. Um pormenor delicioso. As perspetivas não são as que mandam as regras de geometria? E isso que importa? O resto está tudo mais que certo. A começar pelas colagens e pelo tom feérico e popular. Continuando no ambiente de um tipo de comércio que todos nós conhecemos. E terminando na legenda ao estilo de ex-voto, que era imagem de marca deste pintor.
Viva José Nela, pintor da minha terra!
quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
ALGUNS MILAGRES
A propósito de milagres... Aparentemente existem. Pude constatá-lo em recente visita à exposição da Gulbenkian. Tesouros Reais de Espanha? Pois sim. O milagre da exposição, de grande clareza em termos de montagem. O milagre do grafismo, que contraria tendências "modernaças" de tudo ao molho. O milagre da (e na) pintura de Goya. Devo estar a ficar velho, mas fixei-me nos clássicos: Goya, Ticiano, Caravaggio...
Walt Whitman veio dar uma ajuda. A exposição é só até domingo. Ver o que lá está de novo reunido no mesmo espaço, só mesmo por um outro (e improvável) milagre.
Miracles (Walt Whitman)
Why, who makes much of a miracle?
As to me I know of nothing else but miracles,
Whether I walk the streets of Manhattan,
Or dart my sight over the roofs of houses toward the sky,
Or wade with naked feet along the beach just in the edge of
the water,
Or stand under trees in the woods,
Or talk by day with any one I love, or sleep in the bed at night
with any one I love,
Or sit at table at dinner with the rest,
Or look at strangers opposite me riding in the car,
Or watch honey-bees busy around the hive of a summer
forenoon,
Or animals feeding in the fields,
Or birds, or the wonderfulness of insects in the air,
Or the wonderfulness of the sundown, or of stars shining so
quiet and bright,
Or the exquisite delicate thin curve of the new moon in spring;
These with the rest, one and all, are to me miracles,
The whole referring, yet each distinct and in its place.
To me every hour of the light and dark is a miracle,
Every cubic inch of space is a miracle,
Every square yard of the surface of the earth is spread with
the same,
Every foot of the interior swarms with the same.
To me the sea is a continual miracle,
The fishes that swim—the rocks—the motion of the waves—
the ships with men in them,
What stranger miracles are there?
terça-feira, 20 de janeiro de 2015
OS ANANGA-RANGA E AS POMBINHAS DA CATRINA
A história terá uns 35 anos. Havia um baile de finalistas (?) ou da Comissão de Festas (?). Grupo de baile? Os Ananga-Ranga. Um grupo moderno, com uma sonoridade ao jeito daqueles tempos, algo na onda jazz-rock. Tudo bem? Não, tudo mal. O grupo era bom, mas não para um baile. Ninguém dançava. Os músicos um tanto enfiados, a comissão organizadora sob fogo cruzado, temia-se uma noite difícil.
Na segunda série (os bailes eram por séries, cujo final era anunciado assim mesmo pelo vocalista "final de série"), os Ananga-Ranga demonstraram todo o seu pragmatismo. Começaram com uma animada versão das pombinhas da Catrina. O resto deve ter alinhado pelo mesmo diapasão, isso já não me recordo. O baile correu bem.
Lembro-me amiúde deste episódio. Em especial quando se trata dos quadros comunitários. Começamos sempre pelos Ananga-Ranga. Acabamos sempre nas pombinhas da Catrina.
segunda-feira, 19 de janeiro de 2015
TOPONÍMIA URBANA
A toponímia
urbana é uma bolsa de valores, volúvel e rápida. Reflete, por norma, a ascensão
e queda de gerações de políticos, a popularidade, duradoura ou efémera, de
atores, escritores e atrizes, ou ainda de protagonistas locais, com desempenho
de relevo numa época determinada.
Os séculos XIX
e XX desgraçaram, nesse aspeto, a paisagem urbana. A burguesia liberal resolveu
imortalizar os seus protagonistas políticos. Nomes e mais nomes de personagens
hoje relativamente desconhecidos, e que dão vontade de fazer um quizz “diga lá
quem foi Hintz Ribeiro”, “qual o cargo desempenhado por Rodrigues Sampaio?”.
Felizmente, Moura escapou ao flagelo.
Os meus
nomes preferidos são os antigos e tradicionais. Os que remetem para o sítio em
si, como Cerro do Benfica, em Mértola (Benfica não por causa do glorioso SLB,
mas por corruptela de Bab al-Madiq, porta do estreito, em alusão ao ponto de
passagem que dava acesso à vila). Os misteriosamente pré-romanos, como Marvila.
Ou, no caso de Moura, os que nos levam a cemitérios da Alta Idade Média, como
Santa Justa. Os que recordam bairros antigos, e nisso a Mouraria, com Primeira,
Segunda e Treceira (atenção, Treceira e não a banalidade de uma Terceira) ruas,
a todos leva a palma. Gosto da ressonância medieval de algumas das nossas
artérias, como a dos Ourives, a dos Albardeiros, a da Verga, que há tempos
mudou de nome. O povo é quem mais ordena? Sim. A Rua das Tendas, belo nome, é
agora Conselheiro Augusto de Castro. É? Não é nada. Toda a gente a conhece como
Rua da Jopal, em alusão a um estabelecimento comercial ali situado. Mais
curiosa ainda é a Brecha do Jardim, que tem, desde há poucos anos, nome
oficial. Brecha porquê? Porque em 1707, as tropas do Duque de Osuna minaram as
muralhas novas em diversos pontos, originando brechas. Uma delas manteve-se,
firme, na memória da cidade, até aos nossos dias. Já lá vão mais de 300 anos.
Termino com
a alusão a algumas originalidades da toponímia recente. Tenho um especial afeto
pela “praceta” (por norma sinónimo de um lote sugado até ao osso e onde se
deixou, no meio, uma árvore raquítica), mas nada supera o profundo mistério da
“rua projectada”. No caos suburbano dos anos 70 eram frequentes designações
como “Rua Projectada à Calçada da Quintinha” ou, melhor ainda, “Rua Projectada
à Rua 3”. Escusam de checkar, existem mesmo. Tais designações causavam fúria e
desespero a transeuntes e taxistas, perdidos e à nora em novas urbanizações
onde os pontos de referência habituais – a igreja, o velho café, o chafariz, o
jardim – tinham desaparecido.
Ruas
projetadas não temos. Mas temos de projetar o sítio ao qual daremos o nome a homens
como João de Morais (que traçou a igreja do Espírito Santo) ou António
Rodrigues (que desenhou o edifício dos Quartéis). Ou ainda Faraj ibn Khayr
al-Tutaliqi, nascido no nosso concelho no século X e que se tornou um célebre gramático na corte
do califa, em Córdova.
Crónica publicada em "A Planície" de 8.1.2015. Rua da Saudade, coisa de um País de líricos... Em Moura há uma.
domingo, 18 de janeiro de 2015
ROSALIND SCHNEIDER: POESIA EM MOVIMENTO
Havia (1979? 1980?), no Canal 1, um programa sobre cinema, conduzido (salvo erro) por Alfredo Tropa. Dava-se notícias, faziam-se comentários e mostrava-se cinema. Por várias vezes, o programa terminou com a exibição de filmes de Rosalind Schneider (n. 1932). As imagens eram muito bonitas, poéticas podemos mesmo dizer, mas, para as certezas infalíveis dos meus 16-17 anos "aquilo" não era cinema.
É claro que era, e de grande qualidade. Os anos passaram. O conceito estético de Rosalind Schneider refinou-se, sem perder a linha condutora. Evocações impressionistas? Um pouco de Turner? Não sei, não sou crítico de Arte... Mas que as imagens são poéticas, isso são. E é muito bom cinema.
Aqui fica um excerto de "Fall illusion", de 2006.
Aqui fica um excerto de "Fall illusion", de 2006.
Filmes inspiradores, e que me darão uma ajuda num trabalho-não-Moura a desenvolver em fevereiro.
sábado, 17 de janeiro de 2015
GAS STATION
Um responsável militar americano considera a Base das Lajes - por arrastamento, os Açores - uma gas station. Uma bomba de gasolina? Nem mais, isso mesmo. Daí o desinvestimento que ali vai ter lugar.
Estas opiniões revelam, como sempre, respeito e consideração. Aguardo, com curiosidade, as iniciativas (não as palavras...) do nosso governo.
A MINHA LAREIRA
Post particular para alguns amigos que conheceram a casa. Com um texto de Raul Brandão (1867-1930), autor que se "estreia" no blogue.
Já tinha visitado o sítio muitas vezes. Mas nunca, até há três dias, reparara que o espaço de vendas da Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos tinha uma lareira. Não é uma lareira qualquer. É a minha lareira. Naquela casa, hoje muito modificada e onde os traços de outrora desapareceram, viveram os meus avós. O meu avô era o porteiro da Sociedade dos Azeites. Depois de reformado, arranjou aquele trabalho. Ali viveram durante 7 anos. Naquela casa passei longas horas. Ali dormi muitas vezes e ali li os primeiros livros e escrevi as primeiras redações. Misteriosamente, nunca, em tempos recentes, tinha olhado para aquele sítio, bem à vista, onde a minha avó cozinhava e onde tantas vezes me aqueci. Mas aquela é a minha lareira, sem dúvida que sim.
O frio é mortal e durante dias me persegue esta imagem cinzenta, feia e gelada. Até que recomeça a chover, a chover de mansinho e nunca mais despega…
É então que eu gozo… Aconchega-te e sonha. Sonha à tua vontade, sem limites. Acende a fogueira e ouve-a cantar lá fora, descer em enxurradas, passar em trombas com o vento e pingar dos beirais. Esquece o mundo, esquece a vida e deixa-te reluzir por dentro como os troncos secos que ardem na lareira… Agora é mansa e musical - bate devagarinho nas vidraças. Há momentos em que me chama. Ouço um grito ao longe… Avança com arrancos e desperta-me… Por fim o aguaceiro passa, as janelas sossegam - sch!... sch!... (Como tudo está calado!). Fica um pingo que se não sabe donde cai, um som de flauta perdido entre os pinheirais solenes e distantes…
in Raul Brandão, Memórias, III, obra editada após a morte do escritor.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2015
CÂMARA ABERTA - TRABALHO, INVESTIMENTO, EMPREGO (DIA 4)
E chega ao fim esta terceira edição da Câmara Aberta. A opção tomada foi a de escolher empresas locais com impacto exterior. Faltam algumas, decerto, mas a iniciativa não se esgota aqui nem a necessidade de promover o concelho termina hoje.
Das 9 às 18 foram seis as entidades visitadas. Seis experiências diferentes, que correspondem a outros tantos percursos. As marcas são de todos conhecidas. MOURA está sempre em pano de fundo.
No final do dia, ainda houve tempo e oportunidade para uma sessão de esclarecimento sobre o microcrédito. O encontro teve a presença de três entidades bancárias: Millenniumbcp, Novo Banco e Crédito Agrícola. Em termos futebolísticos, podemos dizer que a autarquia joga em todo o terreno de jogo.
Herdade dos Cotéis
Água Castello
Casa Agrícola Santos Jorge
Jinko Solar - fábrica de montagem de painéis
Fábrica de Alimentos Guadiana
quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
M. CONCEIÇÃO AMARAL À FRENTE DA FUNDAÇÃO RICARDO ESPÍRITO SANTO SILVA
A novidade foi-me dada pela própria Conceição, pelo telefone. Acaba de sair agora no Público.
A tarefa de dirigir a FRESS é difícil, para mais numa altura em que tudo o que soe a "Espírito Santo" cause reservas. Conheço a Conceição desde 1997. Durante estes anos construímos uma sólida amizade. Trabalhámos juntos em vários projetos (Memórias Árabo-Islâmicas em Portugal, Marrocos-Portugal: portas do Mediterrâneo, Discover Islamic Art, Lusa: a matriz portuguesa etc.). Conheço a sua extrema competência e solidez profissional. Que tempera com simplicidade pessoal e uma enorme simpatia.
A tarefa é difícil, mas a Conceição vai sair-se bem desta dificuldade. Disso tenho a certeza. O telefonema terminou com a minha disponibilidade para ajudar. As limitações atuais são muitas. Mas cá estarei.
Site da FRESS: http://www.fress.pt
Rio de Janeiro - outubro de 2007. Recordação de um dia de pausa num projeto feliz, Lusa: a matriz portuguesa. Fotógrafa: Maria da Conceição Lopes.
CÂMARA ABERTA - TRABALHO, INVESTIMENTO, EMPREGO (DIA 3)
Dia de contactos institucionais. Manhã de trabalho em torno da LÓGICA, da Herdade da Contenda e da COMOIPREL. Pontos de situação, perspetivas de trabalho, balanço da atividade recente e planos futuros. As questões laborais ocuparam a tarde: encontros com a Diretora do Centro de Emprego e com a União de Sindicatos de Beja.
COMOIPREL / HERDADE DA CONTENDA / LÓGICA
REUNIÃO COM O CENTRO DE EMPREGO
REUNIÃO COM A UNIÃO DE SINDICATOS DE BEJA