quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

BUAL ASSIM UM POUCO AGRÍCOLA

Durante a reunião, não pude deixar de reparar em dois quadros: um à minha frente, que não consegui identificar, ainda que o estilo me seja familiar; outro à esquerda, de pendor pop. Afinal, constatei no final, era uma obra de Artur Bual (1926-1999). Menos gestualista do que seria de esperar, algo warholiana na repetição de temas. Um pouco na onda deste Alfama. Não sei o que pensaria Bual ao ver-se em ambientes ministeriais... Logo ele, tão pouco formal e tão pouco reverente... Em pano de fundo estiveram diferentes conceções de vida e distintas formas de perceber a sociedade. São, não tenhamos dúvidas, dois países num só.

Ao sair, para o ar frio e húmido do Terreiro do Paço, lembrei-me de um poema de José Gomes Ferreira. Um poeta de quem não gosto especialmente. Mas este poema é um pouco diferente de todos os outros.


Nunca ouvi um alentejano cantar sozinho
com egoísmo de fonte.
Quando sente voos na garganta
desce ao caminho
da solidão do seu monte,
e canta
em coro com a família do vizinho.
Não me parece pois necessária
outra razão
– ou desejo
de arrancar o sol do chão –
para explicar
a reforma agrária
no Alentejo.
É apenas uma certa maneira de cantar.

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