quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

DUAS IMAGENS INÉDITAS DO CASTELO DE MOURA

DUAS IMAGENS INÉDITAS DO CASTELO DE MOURA (c. 1940)
Foi um daqueles acasos do facebook. De repente, num grupo (Alentejanos no Facebook? Moura?) vimos aparecer uma fotografia aérea do Castelo de Moura. Não só a imagem nos era desconhecida como, surpresa maior, mostrava aspetos completamente inéditos do monumento.

Veio depois a apurar-se que as fotografias pertenciam a Mário Tavares Chicó (1905-1966), professor de História da Arte na Faculdade de Letras de Lisboa. Tê-las-á encomendado à Força Áerea. As cópias que se conservam estão depositadas na Fundação Mário Soares. Perdeu-se, entretanto, o rasto aos microfilmes originais.
Em primeiro lugar, e dado mais relevante, o Convento de Nossa Senhora da Assunção surge em toda a sua dimensão. Já algo arruinado, é certo, com vastos troços sem telhado, mas, ainda assim, ocupando uma área muito superior à da atualidade. À igreja e ao corpo que, a norte, ainda se conserva, juntavam-se muitas outras dependências. Aparentemente, não disporia de um claustro de grandes dimensões, mas tinha três pátios ou jardins. A cerca do convento está perfeitamente marcada, dando expressão à operação urbanística que D. Ângela de Moura levou a cabo no século XVI. Quase tudo foi varrido pelas demolições realizadas a partir do início da década de 40.
Em segundo lugar, lê-se, com toda a nitidez, a malha urbana intra-muros. As ruas do castelo, que deram depois lugar ao terreiro que, na atualidade, nos é familiar, estavam bem marcadas. Há casas “penduradas” na muralha norte. Outras ocupavam a barbacã. Eram espaço de habitação de dezenas de famílias.
Finalmente, são identificáveis espaços hoje desaparecidos, dentro e fora do castelo: os arruamentos da Praça, com um traçado diferente daquele que hoje conhecemos; a entrada da Primeira Rua da Mouraria, com um alinhamento que uma obra de inícios dos anos 70 alterou; o casão da Água Castello, na alcáçova, demolido pouco depois de 1990.
Punha-se, depois, uma dúvida importante: de quando datavam estas imagens? As hipóteses iniciais (1930-35) foram eliminadas, depois de uma análise mais detalhada levada a cabo por um de nós [JFF].
1) As casas sem telhado que se podem ver na imagem, também estão em fotografias de Zambrano Gomes datadas de 1938.
2) O aspecto do espaço junto à igreja de São Francisco no inicio na década de 30 era como na fotografia que lhe envio em anexo. Estas imagens aéreas já apresentam algumas demolições para construção do jardim, as quais terão começado em 1937-1938.
3) Embora não muito visível, o dispensário (1935) já se encontra construído, inserido no Jardim.
4) Praça Sacadura Cabral: embora já antes ali existissem árvores, a arborização da praça tal como se vê na imagem, bem como outros arranjos que incluíram a colocação de bancos ocorreu em 1934. Mais tarde acabaram por ser retiradas as palmeiras (talvez em 1937-1938, uma vez que numa imagem de 1936 de Zambrano Gomes ainda se podem ver as ditas palmeiras). 
5) A demolição da cúpula da torre sineira da Igreja de São João Baptista ocorreu em 1939. Portanto a fotografia tem que ser posterior a essa data, uma vez que a cúpula já lá não se encontra.
6) As primeiras demolições no castelo iniciaram-se em 1942, tendo começado pelo bloco junto à Torre de Relógio. Numa das imagens ainda são visíveis estas construções.
Ou seja, parece provável que as fotografias datem de 1940 ou 1941. Encomenda feita aos militares, naturalmente, num altura em que a 2ª Guerra estava ao rubro e em tempos em que a segurança do regime não dava quaisquer folgas.
Eis um troço menos conhecido da história de Moura, que aqui deixamos aos leitores de “A Planície”.
Santiago Macias (Historiador)

José Francisco Finha (Historiador)



Texto publicado em "A Planície" de 15.2.2015. Há muitas maneiras de amar uma cidade. Estudá-la e divulgá-la é uma dessas formas.

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