sexta-feira, 13 de março de 2015

A GAIOLA DOS CANÁRIOS

Foi há dias, no futebol. Os apoiantes do Estoril-Praia ficaram confinados a uma gaiola, no Estádio da Luz. Está bem que eles são os canários, mas o "espetáculo" era constrangedor. Havia mais polícias e stewards que membros da claque... A este triste ponto chegámos. Lembrei-me de textos que, no início dos anos 80, lia nas aulas de inglês. Em diversos já se abordava a questão do hooliganismo. Tudo isso nos parecia longínquo. Agora já não é assim. Cada vez mais ir ao futebol é um desabafo coletivo. Uma catarse low-cost. Uma coisa triste.

O que é que o poema tem a ver com isto? Nada, a não ser o título. Escolhi-o por ser bonito, nada mais.



The cage

In the waking night

The forests have stopped growing
The shells are listening
The shadows in the pools turn grey
The pearls dissolve in the shadow
And I return to you

Your face is marked upon the clockface,
My hands are beneath your hair
And if the time you mark sets free the birds
And if they fly away towards the forest
The hour will no longer be ours

Ours is the ornate birdcage
The brimming cup of water
The preface to the book
And all the clocks are ticking
All the dark rooms are moving
All the air's nerves are bare.

Once flown
The feathered hour will not return
And I shall have gone away.

David Gascoyne (1916–2001) 

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