Ainda tentei
o título À sombra da água, mas sem
sucesso. Só duas ou três pessoas gostaram da ideia. Como não sou dogmático,
desisti. Perguntaram-me “porquê À sombra
da água? Que raio de ideia...”. Bem me esforcei em explicar que Moura não
só nasceu à sombra do castelo mas também à sombra de um importante recurso.
Olhares desconfiados (“o gajo passou-se”, etc.), argumentações contra (que
ninguém ía perceber o sentido do título, etc.), um disparar de alternativas (“deixa
ver se ele aceita alguma”, etc.). Desisti mesmo. Acabou por ser a Conceição Amaral a avançar com a proposta que agora está na mesa. O que está sobre a
mesa?
Uma exposição
que será inaugurada dentro de poucos meses no espaço do antigo matadouro
municipal. O tema é a água, vista numa perspetiva história. Ou, se se preferir
e para armar ao científico, numa visão diacrónica. Há só uma água? Não, há
várias. Temos a “água geológica”, a que a terra guarda dentro de si. A falha em
que Moura assenta torna a cidade numa exceção na aridez que quase todo o sol
arrasta. Temos a “água económica”, aquela que hoje se tornou num produto de
consumo. A que deu de comer aos pescadores do Ardila e do Guadiana e fez com
que atividades artesanais ganhassem forma e se desenvolvessem. Temos a “água
testemunho histórico”, a dos objetos do quotidiano de conservação, de
armazenamento e de consumo. Deverá a exposição cingir-se aos objetos
arqueológicos? Nem por sombras. Pode, deve e vai ter objetos de todas as
épocas. Incluindo os artefactos dos nossos dias ligados à água.
Temos 200
metros quadrados para mostrar um pouco desta água que é de todos. Podemos,
devemos e vamos, em cada momento e em
cada sítio, valorizar aquilo que esta terra tem. A exposição Água – património de Moura faz parte da
estratégia de reabilitação urbana em que apostámos e em que continuaremos a
apostar.
Assumi,
pessoalmente, a responsabilidade de coordenar este projeto e, como autor do
guião, de lhe dar forma, escrevendo textos e delineando, em conjunto com
Vanessa Gaspar e com Marisa Bacalhau, os conteúdos (palavrão, mais um!, para os
materiais a escolher e formas de os organizar). Tenho especial prazer, enquanto
presidente da câmara, em assegurar este género de tarefas. Até porque se trata
do segundo trabalho deste género que desenvolvo em Moura: o primeiro, Moura na época romana, foi no já
distante ano de 1987. O tempo passa...
Crónica publicada em "A Planície" de dia 1.5.2015
ResponderEliminarA fotografia é lindíssima!