terça-feira, 5 de maio de 2015

ÁGUA - PATRIMÓNIO DE MOURA


Ainda tentei o título À sombra da água, mas sem sucesso. Só duas ou três pessoas gostaram da ideia. Como não sou dogmático, desisti. Perguntaram-me “porquê À sombra da água? Que raio de ideia...”. Bem me esforcei em explicar que Moura não só nasceu à sombra do castelo mas também à sombra de um importante recurso. Olhares desconfiados (“o gajo passou-se”, etc.), argumentações contra (que ninguém ía perceber o sentido do título, etc.), um disparar de alternativas (“deixa ver se ele aceita alguma”, etc.). Desisti mesmo. Acabou por ser a Conceição Amaral a avançar com a proposta que agora está na mesa. O que está sobre a mesa?

Uma exposição que será inaugurada dentro de poucos meses no espaço do antigo matadouro municipal. O tema é a água, vista numa perspetiva história. Ou, se se preferir e para armar ao científico, numa visão diacrónica. Há só uma água? Não, há várias. Temos a “água geológica”, a que a terra guarda dentro de si. A falha em que Moura assenta torna a cidade numa exceção na aridez que quase todo o sol arrasta. Temos a “água económica”, aquela que hoje se tornou num produto de consumo. A que deu de comer aos pescadores do Ardila e do Guadiana e fez com que atividades artesanais ganhassem forma e se desenvolvessem. Temos a “água testemunho histórico”, a dos objetos do quotidiano de conservação, de armazenamento e de consumo. Deverá a exposição cingir-se aos objetos arqueológicos? Nem por sombras. Pode, deve e vai ter objetos de todas as épocas. Incluindo os artefactos dos nossos dias ligados à água.

Temos 200 metros quadrados para mostrar um pouco desta água que é de todos. Podemos, devemos e  vamos, em cada momento e em cada sítio, valorizar aquilo que esta terra tem. A exposição Água – património de Moura faz parte da estratégia de reabilitação urbana em que apostámos e em que continuaremos a apostar.

Assumi, pessoalmente, a responsabilidade de coordenar este projeto e, como autor do guião, de lhe dar forma, escrevendo textos e delineando, em conjunto com Vanessa Gaspar e com Marisa Bacalhau, os conteúdos (palavrão, mais um!, para os materiais a escolher e formas de os organizar). Tenho especial prazer, enquanto presidente da câmara, em assegurar este género de tarefas. Até porque se trata do segundo trabalho deste género que desenvolvo em Moura: o primeiro, Moura na época romana, foi no já distante ano de 1987. O tempo passa...

Crónica publicada em "A Planície" de dia 1.5.2015

1 comentário: