terça-feira, 19 de maio de 2015

QUANDO MOURA SE CHAMAVA LACANT

Estava posto em meu sossego, e sem pensar mais na hipótese de Moura ter sido o sítio paleocristão de Lacalt e deste ter correspondido à fortificação islâmica de Laqant - v. explicação detalhada aqui -, quando a Manuela Alves Dias me telefonou. Não falava com a Manuela há muito tempo. Mantivémos contacto próximo durante a montagem da exposição da basílica de Mértola (inaugurou no dia 14.11.1993...). Depois disso falámos esporadicamente. A Manuela é uma epigrafista de alta categoria. Deu-me, há dias, mais provas de uma erudição que bem (lhe) conheço. O telefone tocou a meio da Serra de Serpa. O monólogo foi breve e assertivo: "Olha lá, aquela hipótese que colocaste, quanto à evolução do nome de Lacalt para Laqant não é bem assim. É que não houve mudança nenhuma". Passou-me pela cabeça a hipótese de ter cometido um erro grosseiro, mas a tranquilidade veio depressa: "é que na Alta Idade Média o sítio já se chamava Lacant". Como??? "Sim, a minha colega espanhola [Alicia Canto] cometeu um erro de leitura. Como podes ver nos teus decalques o segundo A tem uma perna vertical a mais que tem sido interpretada como um L, (que para o ser tinha que ter uma perna horizontal que não está lá embora tivesse espaço) trata-se de um nexo AN, em que o N está representado pela tal haste encostada ao A. do que resulta a leitura Lacantensiae e não Lacaltensiae". Mandou-me depois um texto justificativo.

Ter amigos assim é uma sorte. Uma sorte construída, mas uma sorte, ainda assim.

Ou seja, e para que conste: MOURA chamou-se mesmo LACANT, depois LAQANT, no período islâmico. Porque mudou? Porque o C não existe no alifato.


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