quarta-feira, 15 de julho de 2015

UMA FESTA NOVA EM CADA ANO


É o grande momento do calendário da nossa cidade. Tal como os antigos se orientavam pelo sol e pelas estações do ano, nós guiamos o nosso tempo pela Festa de Nossa Senhora do Carmo. Há, no tempo que passa e no relógio de todos nós, um “antes” e um “depois” da festa.

Este ano, tudo se vai passar entre os dias 16 e 20 de julho. O nosso quotidiano vai alterar-se e viveremos em função de acontecimentos em tudo diferentes dos do resto do ano. De quinta à tarde até terça de madrugada há momentos que fazem parte desse calendário rápido e que todos os mourenses conhecem. São familiares a todos o ato formal da abertura e do desfile inaugural, o fogo de artifício, a procissão de domingo à tarde, o fim de festa com música popular e com a multidão que invade o recinto da feira.

O grande acontecimento da Festa de Nossa Senhora do Carmo é a procissão de domingo. Vamos todos, os crentes, os ateus e os agnósticos. O percurso é antigo (a procissão em honra do D. João VI, em julho de 1816, percorreu as mesmíssimas ruas) e bem conhecido de todos. Escrevi, em 2001, estas palavras: “acima das nossas cabeças, as janelas vestem as suas melhores colchas, uma homenagem cheia de cor à fé que vai passando. Em baixo continua o desfile, pelo qual esperaremos várias vezes. Apanhamo-lo na primeira esquina, esperamos que passe, iremos adiante, veremos as mesmas pessoas, ultrapassaremos a multidão  mais uma, duas, três vezes, até tudo acabar, já com o Sol a pôr-se lá longe, por detrás dos cerros e das escarpas que separam o Alto do Baixo Alentejo.” Poderia escrever, hoje, exatamente o mesmo texto. Daqui a cinquenta anos será mais ou menos assim.

Este ano, a Praça estará um pouco diferente. Achámos que era o momento de se expressar apoio à Festa e à sua Comissão de outra maneira. As janelas dos edifícios camarários terão colchas a engalanar um pouco mais o centro da cidade e a darem um pouco mais de brilho à procissão. A ideia foi acolhida com entusiasmo pelas trabalhadoras da autarquia, peça essencial nesta iniciativa. É apenas um gesto, bem sabemos. Mas é um gesto pleno de simbolismo, e que pretende contribuir para demonstrar o orgulho da nossa terra. Sem limites nem concessões.


Em momentos como este o meu agnosticismo pouco conta. Moura, a Festa, a Comissão contam muito mais.

Texto publicado hoje em "A Planície" (fotografia de António Cunha, do livro "Moura - crónica da festa", editado pela CMM em 2001)

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