quinta-feira, 29 de outubro de 2015

TODO O FALSO PUDOR SERÁ CASTIGADO...

Ao ligar-me, há pouco, ao facebook, tinha um aviso solene: nada de poucas vergonhas. Uma fotografia, mais que inocente, ontem publicada fora apagada. Alguém que não gosta de seios femininos se queixara... Ou era isso ou o poema de Drummond de Andrade. Deixo o facebook em paz. Aqui fica mais um pouco de Álvarez Bravo e mais um pouco de Drummond de Andrade. A fotografia é de 1947 e intitula-se Espejo negro. Aqui fica o meu contributo diário neste blogue. Com uma certeza: abomino os falsos pudores.

AMOR – POIS QUE É PALAVRA ESSENCIAL
Amor – pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.
Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?
O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.
Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?
Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

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