quarta-feira, 23 de março de 2016

JÚBILO

Fiquei, ontem, imensamente feliz ao saber que a minha amiga Cristiana Bastos vai receber uma importante bolsa de apoio para um estudo sobre A COR DO TRABALHO: AS VIDAS RACIALIZADAS DOS MIGRANTES. Conheço a Cristiana há mais de 30 anos anos (quase me custa escrever estes números...) e é, com toda a certeza, uma das pessoas mais brilhantes que conheço. E que alia, coisa que nem sempre acontece, a qualidade intelectual a uma desarmante simpatia e a um raro espírito combativo.

Transcrevo a nota que o ICS publicou no facebook:

CRISTIANA BASTOS, investigadora principal do ICS-ULisboa, recebe 2,2 milhões de euros (Advanced Grant 2015) do EUROPEAN RESEARCH COUNCIL para estudo sobre A COR DO TRABALHO: AS VIDAS RACIALIZADAS DOS MIGRANTES. É a terceira vez que o ICS-ULisboa recebe um financiamento desta instituição europeia.
Este projeto é sobre racismo, racializações, fronteiras e migrações, abordando um conjunto de deslocamentos até hoje pouco documentado porém crucial na constituição das sociedades contemporâneas: os fluxos intercontinentais de trabalhadores na pós-abolição da escravatura e as dinâmicas de inclusão/tensão/competição que se estabeleceram localmente, acompanhadas de formações conceptuais por vezes apresentadas como ciência racial. Vamos documentar vários casos articulando passado e presente, combinando antropologia e história, etnografia e arquivo; entre eles contam-se as grandes deslocações de portugueses das ilhas para as plantações de açúcar no império britânico, sobretudo na Guiana, desde a década de 1830, ou, mais tarde, para a revolução industrial da Nova Inglaterra. De um ponto de vista português, será interessante pensar a expansão de um modo inteiramente diferente daquele que até hoje impera, substituindo a narrativa das caravelas e descobertas pela do trabalho, dificuldades e conquistas sociais. Mas o objetivo do projeto é mais amplo e, como assinalaram os avaliadores, que unanimemente apontaram a sua originalidade e ambição, abre fronteiras no estado atual do conhecimento, articulando diferentes campos científicos, metodologias, pontos de observação e metas teóricas.
Cristiana Bastos é antropóloga e integra o Instituto de Ciências Sociais desde 1990, onde é coordenadora do grupo de investigação Identidades, Culturas, Vulnerabilidades. Colaborou e colabora com diversos programas de pós-graduação na Universidade de Lisboa, ISCTE, Coimbra, Brown, University of Massachusetts-Dartmouth, Unicamp, UERJ, UFRJ. Formou-se na FCSH, foi orientanda de Vitorino Magalhães Godinho, e doutorou-se na City University of New York. Os seus interesses situam-se na interseção da antropologia, história e estudos sociais da ciência, materializando-se em linhas de pesquisa sobre dinâmicas da população, mobilidade transnacional, biopolítica colonial, medicina e império, história social da saúde e do bem-estar. Trabalhou sobre o Algarve interior, Brasil urbano, Goa colonial, e, presentemente, estuda dinâmicas de etnicização e racialização em economias de plantação e de indústria nas Américas. 

A Cristiana, discretamente, não referiu o facto, tendo optado pela expressão "In heaven" e remetido para Ella Fitzgerald. Sempre é melhor que os Frankie Goes To Hollywood, que ouvíamos em Mértola e em Noudar, em 1983/84...

À tua, Cristiana!


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