quarta-feira, 16 de março de 2016

SÉCULO DENTRO

A reunião de ontem do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável decorreu num ambiente diferente. Por razões de ordem logística, o encontro teve lugar na antiga secretaria do jornal "O Século". Já várias vezes tinha passado pelo exterior, mas nunca entrara.

É um sítio verdadeiramente excepcional, todo ele orgulho burguês do início do século XX. Madeiras, vidros e metais de qualidade e bom gosto. Tetos bem desenhados, capitéis coríntios e muita luz. À entrada, do lado esquerdo, lê-se, num dos guichets, Illustração Portugueza.

Olha-se para cima e vem-nos à memória o cenário de Citizen Kane. Talvez se esteja condicionado por o filme ter um jornal como cenário, mas é assim.

"O Século" desapareceu em 1977, no meio de um processo triste. Fica a memória das coisas, no silêncio de um sítio onde tanta gente viveu. Evoquemos o sítio, e a poesia de Cecília Meireles.



JORNAL, LONGE

Que faremos destes jornais, com telegramas, notícias,
anúncios, fotografias, opiniões...?

Caem as folhas secas sobre os longos relatos de guerra:
e o sol empalidece suas letras infinitas.

Que faremos destes jornais, longe do mundo e dos homens?
Este recado de loucura perde o sentido entre a terra e o céu.

De dia, lemos na flor que nasce e na abelha que voa;
de noite, nas grandes estrelas, e no aroma do campo serenado.

Aqui, toda a vizinhança proclama convicta:
"Os jornais servem para fazer embrulhos".

E é uma das raras vezes em que todos estão de acordo.



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