Retomo um texto do blogue, de 21.5.2012:
Numa cena do filme Malteses, Burgueses e às Vezes..., de Artur Semedo, um personagem sai de um autocarro, em Lisboa. Em frente à paragem está uma papeleira, com um poema impresso. O homem lê o poema e exclama "isto é mesmo um país de poetas...". Lembrei-me disto ao entrar no outro dia em casa e ao deparar com um grupo de miúdos a jogar às cartas. Cada carta do baralho tinha um aforismo diferente. Somos um país de poetas? Somos pois. Quer dizer, seremos todos menos eu.
Voltei a lembrar-me dessa cena, na noite de sexta para sábado, ao sair do Bar Lancelote, em Mértola. Não sei a razão de um Lancelote em Mértola, mas imagino que seja pelo romantismo da história. Em todo o caso, uma tampa de esgoto com um coração pintado tem que se lhe diga.
Aqui fica, pois, um soneto do nome maior do nosso lirismo:
Aquella triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Em quanto houver no mundo saudade
Quero que seja sempre celebrada.
Ella só, quando amena e marchetada
Sahia, dando á terra claridade,
Vio apartar-se de huma outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada
Ella só vio as lagrimas em fio,
Que de huns e de outros olhos derivadas,
Juntando-se, formárão largo rio
Ella ouvio as palavras magoadas,
Que puderão tornar o fogo frio,
E dar descanço às almas condemnadas.
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Em quanto houver no mundo saudade
Quero que seja sempre celebrada.
Ella só, quando amena e marchetada
Sahia, dando á terra claridade,
Vio apartar-se de huma outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada
Ella só vio as lagrimas em fio,
Que de huns e de outros olhos derivadas,
Juntando-se, formárão largo rio
Ella ouvio as palavras magoadas,
Que puderão tornar o fogo frio,
E dar descanço às almas condemnadas.
Não sei se somos todos poetas... Sei que Camões é e que o dono do Lancelote é de Santo Aleixo da Restauração ;) um abraço amigo
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