domingo, 18 de setembro de 2016

CULTURAL BULLSHIT

Quando, no passado mês de maio, tive de assistir a uma cerimónia nos Estados Unidos, a jovem amiga com quem me ia encontrar pediu-me "por amor de Deus, não tragas aquelas tuas camisas de padrões africanos". Porquê?, surpreendi-me. A resposta foi que usar símbolos que não me pertencem é "cultural appropriation" (uma coisa séria nos States...), mais uma daquelas tangas conceptuais inventadas por quem não tem muito que fazer. Ou seja, no limite não posso usar nada que seja exterior à minha cultura. Ainda argumentei que muitos padrões africanos não são exatamente africanos, mas sim uma criação dos espertalhões dos holandeses, adaptados a partir de motivos e de técnicas orientais. Não a demovi e optei por roupa discreta.

Ontem, ri com gosto ao ver que um desfile de moda de Marc Jacobs causou assinalável burburinho, uma vez que as modelos (quase todas brancas) usavam dreadlocks. "Cultural appropriation", berraram as virgens ofendida do costume.

Lembrei-me, vá lá saber-se porquê, do político macaense Roque Choi, que usava com regularidade um capote alentejano. Não só o facto não me ofende minimamente, como até me parece uma interessante promoção de uma das nossas imagens de marca.

Muito, mas muito pior que a tal "cultural appropriation" é o facto de continuar a haver uma grosseira discriminação racial na escolha dos/as modelos, dos atores e atrizes, dos/as apresentadores de televisão. O problema está aí e não no uso de adornos e de adereços.


2 comentários:

  1. Bem, um pouco melhor que as ditas camisas!Que poderiam ter saído de alguma série policial americana, rodada em Honolulu!...Parece que também o Elvis Presley tinha uma ligeira inclinação por tal indumentária!...Que quanto a mim também tem algo de África!

    Ecce Homo

    P.S. um pouco de humor não faz mal nenhum e até serve para desanuviar o contexto cinzento dos nossos dias

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