quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

MAESTRO JOSÉ COELHO


O momento ficou-me gravado. Porque a um som colorido se contrapunha o silêncio. Acontecia sempre no momento da comunhão. O maestro José Coelho, que acompanhava a missa tocando órgão, dirigia-se ele mesmo ao altar para receber a hóstia. Ouvia-se então apenas o som das vozes para o órgão retomar o seu curso quando ele voltava, sempre apressadamente, para o seu lugar.

Não foi meu professor de música na escola, porque em 1973 fui para Lisboa. Via-o muitas vezes na Escola Industrial, onde leccionava e onde a minha mãe trabalhava. Desapareceu prematuramente, deixando boas recordações a tanta gente da nossa terra. E se o 2 de fevereiro é uma data importante na vida do maestro, juntemos então esse marco à elevação de Moura a cidade. A ideia foi sendo trabalhada, até tomar forma, num percurso dificíl, lento e marcado, até, por pequenas intrigas. O que se fez? Pegar na obra de José Coelho e dar-lhe diferentes roupagens musicais. Quem participa? Músicos de Moura, uma terra que tanto lhe deve. Dezena e meia de músicos reinterpretam temas seus. Composições há muito esquecidas são agora retomadas. Outras, que fazem parte do nosso quotidiano, são uma vez mais gravadas. Quem toca? Músicos do Conservatório, as filarmónicas da vila e uma banda rock. Quem canta? Grupos corais, fadistas, agrupamentos de música popular. Um projeto que envolveu largas dezenas de pessoas e que vai culminar no dia 5 de fevereiro. Nesse dia, será reinaugurado o monumento em boa hora mandado fazer pela Câmara Municipal. Um necessário “lifting” para redignificar o espaço, com um novo projeto de iluminação. Segue-se uma festa de homenagem na Sheherazade.

A preservação da memória é uma facto essencial. Homenagear os nosso melhores é algo que fazemos de forma empenhada e convicta. Com orgulho e com prazer.


Facto crucial no percurso deste nosso músico há muita desaparecido: a obra perpetua a sua presença entre nós. As suas músicas continuam a ser cantadas e a passar de geração em geração.  Haverá algum mourense que não saiba cantar a “Nossa Senhora do Carmo”? Um só, digam-me... Pergunto então que melhor homenagem poderia alguém querer do ganhar o reconhecimento de uma comunidade através da música. É também por isso, por tudo o que lhe devemos, que lhe dedicaremos a próxima Feira do Livro.

Crónica publicada hoje em "A Planície"

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