O recente desaparecimento de Alberto Carneiro (1937-2017) motivou um conjunto de textos sobre a sua obra. No jornal "Público" era referido como "inventor de mundos, escultor da natureza".
Do site da RTP:
Do site da RTP:
"Foi um grande mestre, um grande
professor também, amigo de gerações de jovens artistas, e é uma referência
maior e foi um lutador extraordinário contra a doença, na última década, e
cumpriu um destino fantástico", disse à Lusa Raquel Henriques da Silva, que
trabalhou por diversas vezes com o escultor.
Para a historiadora, são várias as
razões pelas quais Alberto Carneiro é uma figura absolutamente fundamental da
escultura em Portugal no século XX.
Desde logo, destaca a importância que o
escultor deu à sua proveniência, tendo trabalhado em adolescente numa oficina
de santeiro, na região norte do país, de onde era oriundo, onde se produziam
santos, quer de madeira para o altar, quer de pedra para o exterior.
"Esse trabalhar da madeira durante
a sua adolescência foi sempre algo que o Alberto salientou. Não que ele fosse
um autodidata, porque, já mais velho do que é costume, entrou na Faculdade de
Belas Artes, então Escola de Belas Artes do Porto, onde fez o curso com bons
resultados", afirmou.
Raquel Henriques da Silva destacou ainda
como muito importante para o percurso do escultor uma bolsa que obteve, no
final dos anos 1960, que lhe permitiu ir estudar para Londres.
É então que "ele, que vinha do
talhe, de trabalhar a madeira pelo sistema de talhe, de ir roubando madeira à
madeira, entra num processo criativo absolutamente sem retorno, absolutamente
fundamental que o afasta desse processo tradicional e o lança numa fase muito
diferente, em que a escrita desempenhará um papel importantíssimo", acrescentou.
Foi a partir de então que usa o conceito
de escultura em campo expandido de Rosalind Krauss, "em que a escultura
deixa de ser um monolítico e entra num processo de criação que é
simultaneamente objetual, mas também performativo".
São desta altura as obras "O
canavial: memória metamorfose de um corpo ausente" (1968) e "Uma
floresta para os teus sonhos" (1970), por exemplo.
O escultor escreveu também "um
manifesto que é um dos primeiros manifestos que se escreveram não só em
Portugal como no mundo, sobre arte ecológica, sobre esta ideia de naturalidade
dos materiais, esta presença da floresta e da árvore na sua exposição, que vão
ser muito muito importantes, na produção" de Alberto Carneiro,
acrescentou.
Em obras conceptuais como "O
Canavial", o "esquema da montagem é o fundamental", destacou a
ex-diretora do Museu do Chiado e do antigo Instituto Português de Museus.
"Para ele a obra é o esquema muito
detalhado da construção da obra. A peça é um esquema, quando se quiser montar
de novo monta-se a partir do esquema", explicou.
Raquel Henriques da Silva salientou
ainda que, a partir dos anos 1980, Alberto Carneiro regressou ao talhe,
"não manual mas com máquinas", tendo "neste último período de
vida deixado peças de capacidade poética e de uma qualidade da madeira
extraordinária".
Alberto Carneiro foi um dos nomes que
mais "abriram novos caminhos para a prática artística em Portugal",
na segunda metade do século XX, destaca a biografia do escultor, publicada no
`site` do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado.
"Mandala del Parque" (Quito, Equador)
Ao regressar ontem, ao final da tarde, à Câmara Municipal deparei com estas estruturas numa unidade industrial abandonada. Foi então que me lembrei de Alberto Carneiro.
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