quinta-feira, 15 de junho de 2017

ANTÓNIO AUGUSTO MARQUES DE ALMEIDA (1936-2017)

Foi meu professor de Matemática para as Ciências Sociais e Humanas no ano letivo de 1981/82. A primeira aula foi no dia 7 de dezembro, na sala 7. Recordo o sorriso meio irónico com que entrou na sala e deparou com a turma, silenciosa e aterrorizada. Matemática?? A cadeira era obrigatória. Com sensibilidade e inteligência, o Prof. Marques de Almeida levou a "coisa" por outros caminhos. Interessou-nos por Bento de Jesus Caraça, pela matematização do real, pela visão qualitativa e não quantitativa. As aulas eram espaços de liberdade e Marques de Almeida obrigava-nos a improvisar. Uma das componentes obrigatórias era a "apresentação oral". Tinhamos de falar durante 10 ou 15 minutos sobre um tema à nossa escolha. Optei pelo cinema português e pela visão que os estrangeiros colhiam de Portugal através dos filmes. Com aquele pequenos exercício, Marques de Almeida queria que nos disciplinássemos e que puséssemos o cérebro a trabalhar cronometricamente. Lembrei-me do seu austero "tens 10 minutos para terminar" muitas vezes ao longo da vida. Orientou-me nas leituras, obrigou-me a ler o Capitalismo monárquico português, de Manuel Nunes Dias, fez-me trabalhar sobre a feitoria portuguesa de Antuérpia e, sobretudo, ajudou-me.

Perdido em dúvidas filosóficas, sozinho e sem vontade especial de estudar História, teria errado se não fosse o apoio que me deu. A generosa nota com que terminei Matemática foi um impulso decisivo para a carreira que mais tarde escolhi. Marques de Almeida parecia-me um homem quase idoso. Constato agora que tinha apenas 45 anos... Faleceu ontem. Vi-o a última vez há uns bons quatro ou cinco anos.


Coincidências e ironias do destino: doutorei-me, em Lyon, no amphithéâtre Benveniste. O nome de judeu que motivou a criação pela família Benveniste, em 1996, de uma cátedra na Universidade de Lisboa. Primeiro diretor dessa cátedra? Marques de Almeida.

Professores importantes no meu percurso de aprendizagem?
António Augusto Marques de Almeida
Cláudio Torres
Eduardo Borges Nunes
João B. Serra
Manuel Rio-Carvalho
Muito poucos, em quatro anos.
De entre o que foram meus professores sem me terem dado aulas não posso esquecer António Borges Coelho e José Luís de Matos.

2 comentários:

  1. Caro Santiago
    Junto a minha voz à tua na homenagem ao Prof. A. Marques de Almeida; e extensiva à memória do Borges Nunes e do Rio-de-Carvalho. E um grande abraço ao Claudio. É também desses quatro "mestres" que tenho as melhores referências dos anos da licenciatura. Já agora, o João Bonifácio Serra não foi meu professor, mas conheci-o, mais tarde, quando ele foi assessor do Presidente Jorge Sampaio e nessas funções percebi que era duma excepcional qualidade de trato e de uma competência serena pouco vulgares.
    Abraço,
    Manuel Branco

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  2. Referes o Professor José Luís de Matos, e ainda bem. Num tempo de disrupção (como agora se diz, mas eu prefiro ainda a ruptura) na minha vida, de orfandade de valores e de deslumbre por luzes que agora me encandeiam, o Professor José Luís de Matos foi o mestre sereno e sabedor, sóbrio, estudioso e com uma paciência muito grande para com jovens de sangue na guelra, como eu. A minha procura da novidade encontrou nele um espaço de sobriedade e conhecimento. De método. Mas, também, de questionamento muito objectivo do trabalho do historiador.
    Luís de Matos levou-me para o Campo Arqueológico de Vilamoura e ofereceu-me o sacrifício de catalogar milhares de gragmentos de ânforas vinárias, oleárias, de gadum. E eu não sabia trabalhar assim. Fiz-me à vida e arranquei cabelos. Hoje lamento não ter seguido aquele caminho de rigor. Mas as lamentações não mudam coisa nenhuma.
    Esteve ali um mestre e eu, dando por ele, não o valorizei como merecia.
    Nunca o fiz. Faço-o agora.
    Abraço.
    Joaquim Margarido.

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