Dentro de poucas semanas terá
lugar a apresentação do livro AMARELEJA. Foi um trabalho que fizémos questão de
levar a cabo. Depois de uma crónica da festa de Moura, editada em 2001, depois
de um álbum fotográfico sobre Santo Aleixo, dado à estampa em 2010, achámos que
era a vez da Amareleja. Cada livro tem um espírito proprio e uma vida própria.
“Amareleja” não é uma monografía ou uma crónica. Não é um ensaio. São mais de
100 fotografias que dão conta de parte da vida de uma aldeia (adotou-se essa
designação, por respeito ao espírito ancestral do sitio). Vão a par cinco
textos (Jorge Calado, Jorge Gaspar, Norberto Franco, Francisco Ramos e o autor
destas linhas). Um crítico de fotografía, um geógrafo, um jurista, um académico
(autor de um notável trabalho sobre as alcunhas) e um historiador. O mais
interessante foi constatar a diversidade de imagens que cada um de nós criou.
Mais próximas sem dúvida as de quem ali viveu ou vive (Norberto Franco e
Francisco Ramos). Mais distantes as de nós outros. Espantosamente, parece que
José Manuel Rodrigues ali passou longos anos. Os espaços públicos e a
intimidade dos sítios foram captados com proximidade e com ternura. Por razões
que não vêm ao caso, o arranque do projeto foi quase penoso… O José não teve o
trabalho facilitado. Preferiu ficar só e afirmou-se, contando apenas com dois
ou três apoios locais.
O livro deveria ser sobre o
vinho. Mas a aldeia é muito mais que isso. E, assim, os temas se alargaram e o livro
cresceu. E melhorou, no que às imagens diz respeito. Segui a lógica das imagens
e o espírito do lugar. O “genius loci” dos nossos antepassados romanos. Usei temas
fortes, do modo que quis. O calor, o vinho, as tabernas, as mulheres, as casas,
a paisagem da aldeia. A paixão dos fortes feita sítio. O texto que escrevi
começa assim:
“A terra é quente, as pedras
escaldam. O calor molda o espírito e ajuda
a afeiçoar o vinho. É assim o verão na
Amareleja. Quando chegar o outono, o
calor será um pouco menos. Haverá vindimas e
depois virá o frio e depois
haverá vinho novo. Por agora, o céu é quase
sempre azul. Entre o céu e a
terra se fez a Amareleja. Entre o céu e a
terra se faz o vinho da Amareleja.”
No final, fica um pouco a angústia
“as pessoas irão gostar?”. Que as fotografias são um testemunho extraordinário,
não tenho duvidas… Talvez não seja boa ideia antecipar o que vai acontecer. Tenho
quase sempre esse hábito. Por impaciência ou por qualquer razão difícil de
definir. O melhor é mesmo aguardar. E confiar.
Crónica publicada hoje, em "A Planície"
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