AMARELEJA, ENTRE O CÉU E A TERRA
A terra é
quente, as pedras escaldam. O calor molda o espírito e ajuda a afeiçoar o
vinho. É assim o verão na Amareleja. Quando chegar o outono, o calor será um
pouco menos. Haverá vindimas e depois virá o frio e depois haverá vinho novo. Por
agora, o céu é quase sempre azul. Entre o céu e a terra se fez a Amareleja. A
aldeia é terra de sentimentos fortes. É a paixão dos fortes feita rua e gente.
Dos árabes ficou a al-kunya. A alcunha. E um certo sentido tribal.
O céu é imenso
e dele cai, a pique, o sol. O solo é duro e cizento, duro e ingrato. Os dias de
festa são, ao contrário, coloridos e cheios de som. Mas a terra continuará
quente, as pedras escaldarão e o azul do céu não se apagará. A festa é feita de
luz e de sombra, da noite e do dia, do som e do silêncio.
Os dias da
festa são demasiado rápidos e neles se consome um ano de esforço de todos. A
começar pela inesgotável energia e pelo entusiasmo da Comissão de Festas. Por
vezes, como neste ano, há regressos. Voltam antigos, ainda que muito jovens,
festeiros. Uma generosidade a dobrar, num momento em que outros estão ausentes.
A solidariedade de uma aldeia está também mais viva neste momentos.
Associo-me,
como Presidente da Câmara, a esta festa e a estes dias que vão correr. Com mais
prazer ainda este ano, por se encerrar um ciclo pessoal e porque no próximo ano
já não escreverei no programa das festas. Com mais prazer ainda por poder
evocar a memória dos meus antepassados da aldeia, nascidos e criados no Alto de
Bombel. A imagem mítica da Amareleja, tantas vezes evocada por meus avós,
tornou-se real e forte nos últimos anos. Foi um privilégio raro, que não
poderei esquecer.
Entre o céu
e a terra se fez a Amareleja. São agora os dias da festa. Tiremos partido da
festa. Partamos com o sol em direção a um céu feérico. Não esqueçamos nunca o
poder mágico da terra e do céu feérico sobre nós.
Amareleja, 4 de julho de 2017
Santiago Augusto Ferreira Macias
Presidente da Câmara
Texto escrito para o livro da festa. Uso excertos do que escrevi para o álbum fotográfico que sairá dentro de um mês. Um jovem amigo amarelejense mandou mensagem, onde dizia "Gostei... foi sentido!". Foi, de facto, um texto muito sentido. Esse sentimento colocado no livro da festa é o mesmo que todos nós colocámos nas palavras que acompanham o trabalho de José Manuel Rodrigues. O comentário é um bom prenúncio.
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