Exmo. Senhor Presidente da Câmara
Municipal
Exmos. Senhores eleitos nos órgãos
municipais
Exmos. Senhores Convidados
As primeiras palavras são de
felicitação, e de votos de sucesso, para com aqueles que, dentro de minutos, irão
tomar posse. Em especial, para quem me sucede neste cargo, que tanto honra quem
o ocupa e ao qual temos de dar o melhor de nós.
Agradeço a todos os que comigo
lealmente colaboraram ao longo deste percurso de 12 anos. Em especial aos bons
trabalhadores da Câmara Municipal. Ajudaram-me / ajudaram-nos e, com isso,
fizeram deste concelho um concelho melhor. Agradeço também aos que criaram
obstáculos e dificuldades, porque nos levaram a esforços de superação. Fomos
assim mais longe. Obrigado a todos.
Começo pelo preciso ponto em que
terminei a minha intervenção de há quatro anos. Com o final de um poema de
Alberto Caeiro que diz “Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva /
Há a estrada sem curva nenhuma”. É de um caminho, difícil e sempre incerto, que
se fala sempre que pensamos no percurso de um mandato. Não é hora de balanços
definitivos (esses serão feitos lá mais para a frente), nem de projetar um
futuro que agora começa.
Aproveito estes minutos de despedida
para sublinhar rapidamente os temas que
sempre estiveram no centro das nossas preocupações e da nossa atuação. O problema maior do nosso território é estrutural e
para ele o esforço de uma Câmara Municipal não chega. Temos pela frente o
despovoamento, agravado pelo envelhecimento da população. É um problema que não
se resolve com medidas avulsas. Em 1999, talvez se recordem disso, o governo da
nação quis incentivar trabalhadores da função pública a fixarem-se nas zonas
mais carenciadas. Para tanto, estava prevista a atribuição de subsídios de
valor variável, consoante a categoria do funcionário.
Significou
isto que não se encontrou melhor forma de resolver o despovoamento do interior
do que atirando umas missangas e engodando quadros, eventualmente aborrecidos
com a vida na Grande Cidade, com promessas de subsídios de instalação e mais
uns dinheiros para ajudar a pagar a renda da casa. Foi a versão adocicada dos
“40 acres e uma mula” do seculo XIX norte-americano, a conquista do Oeste sem o
tom épico de Hathaway e de John Ford.
Se bem se recordam também, o projeto
não deu em nada. Rigorosamente em nada. Tal como me atrevo em dizer que em nada
dará o esforço da Unidade de Missão para a Valorização do
Interior. Quase 20 anos depois, o
problema essencial continua a ser demográfico. E, ainda e sempre, continuamos
dependentes da falta da capacidade de decisão do Terreiro do Paço.
“Pobre México, tão longe de Deus e tão
perto dos Estados Unidos!”, disse o presidente Porfirio Diaz há mais de 100
anos. Quando
olhamos para o interior raiano, são frases assim que nos ocorrem. A distância
não será tanto de Deus, como dos centros de decisão. O tráfego nas nossas
ruinosas vias de comunicação é o reflexo direto de um País virado para o seu
umbigo.
E se insisto neste tema é porque acredito que é nele que estão os nossos problemas centrais. E que o futuro passa pela
ultrapassagem desses problemas. Tal como acredito
no caráter decisivo que tem o investimento nas infraestrutras e nas várias
formas de reabilitação urbana.
O
problema principal, repito, passa pela perda de população e pela perda de
quadros qualificados. Sem gente não há futuro e sem condições para aqui
vivermos não há gente. O problema passa pelo abandono dos territórios
periféricos. Pelo esquecimento do interior. Onde estava o Estado e qual o papel
do Estado nas tragédias que ocorreram neste ano de 2017? Onde estava o Estado e
qual o papel do Estado na resolução da Ribeira da Perna Seca, no Sobral da
Adiça? Onde andaram os governantes do nosso País e aqueles que os apoiaram na
Assembleia da República? Onde está
aquilo a que temos direito?
Termino com a
citação de um texto. Ainda e sempre os caminhos. Sublinho, neste caso, decisões
pessoais. De “A estrada que não foi seguida”, de Robert Frost: “Duas
estradas separavam-se num bosque, e eu / Eu segui a menos percorrida / E isso
fez toda a diferença.” Continuarei, com toda a convicção a seguir, solidário e
solitário, a percorrer os caminhos em que acredito. Com esta minha terra e com
esta minha gente sempre no meu espírito e sempre na minha memória.
Momento divertido da despedida: na sexta-feira, um amigo sugere-me, distraidamente, que entregue as chaves da Câmara ao novo presidente. Digo que nem pensar em tal, dou uma gargalhada e pergunto: "conheces o quadro La rendición de Breda, de Velázquez?". Não conhecia. É uma tela, pintada para a Coroa espanhola e hoje no Museu do Prado, e que retrata a entrega das chaves da cidade de Breda, por Justino de Nassau a Ambrosio de Spinola, depois do cerco da cidade. O quadro data de 1634/35, uma década depois dos acontecimentos a que se reporta.
Nem rendição, nem capitulação. Era só o que faltava.
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