terça-feira, 31 de outubro de 2017

BALANÇO DO MANDATO 2013/2017 - ENTREVISTA EM "A PLANÍCIE"

Assumindo, com orgulho, o trabalho de quatro anos.



Qual o balanço que faz dos anos como autarca e dos últimos quatro à frente da Câmara de Moura?

Auto-avaliação arrisca-se sempre a ser auto-elogio... Que quer que lhe diga? Naturalmente que faço uma avaliação positiva do trabalho da equipa. Num momento de grande dificuldade, sem grandes financiamentos externos (recorde-se que o mandato se passa “entre” dois quadros comunitários (o 2007/2013 que fechava, o de 2014/2020 que só agora dá sinais de vida), com uma Assembleia Municipal que hostilizou o trabalho da Câmara (chumbo de orçamentos, chumbo de empréstimos, chumbos na área do pessoal), com a necessidade de dar mais disciplina à política financeira da Câmara, isto foi tudo menos fácil. Foi ainda assim um mandato de algumas grandes realizações (obras como as dos Quartéis, do Matadouro, do Pavilhão das Cancelinhas, da Ribeira da Perna Seca, do Parque de Leilão de Gado, nas quais me envolvera intensamente como vereador, foram terminadas entre 2014 e 2017), entre as quais inclui a renovação do Campo Maria Vitória e a instalação de uma grande superfície comercial. E que preparou o caminho do futuro. Diminuimos os pagamentos em atraso (de 967.000 para menos de 90.000 euros), aumentámos o investimento no parque de viaturas do município (de 79.000 para mais de 800.000 euros), baixámos a dívida de curto prazo (é neste momento de 1.450.000 euros), lançámos projetos para o novo quadro comunitário e tenho a certeza de termos prestigiado o Município. Os vários prémios nacionais que recebemos são disso testemunho.



Nos anos de presidência, na Câmara de Municipal de Moura, qual foi o momento que o mais marcou?

O da conclusão das obras da Ribeira da Perna Seca, no dia 18 de dezembro de 2016. Tinha sido um projeto em que me envolvera a fundo desde 2005. A obra tinha um caráter simbólico evidente (os deputados do PS na Assembleia da República tiveram uma deplorável atitude. Votaram a favor e contra o financiamento desta obra pelo Poder Central, consoante o PS estava na oposição ou no poder... gente assim toma estas decisões sobre as nossas vidas e não tem vergonha)­. Por outro lado, a intervenção era absolutamente indispensável. A população da aldeia não podia continuar a ser fustigada por cheias que tantos prejuízos causaram. Foi obra do Município e isso registo com prazer.

O dia da inauguração foi um momento complicado. Mal tinha começado a ler o discurso que preparara, começa-me a falhar a voz. Emocionei-me muito mais do que esperava. Um amigo sobralense que assistiu à cerimónia disse-me “você estava mesmo aflito, nunca o tinha visto assim!”. De voz embargada e sem ser capaz de resistir à alegria do momento, acabei o discurso com dificuldade.

Não sei se sabe, mas há sempre quem (em todos os quadrantes políticos) insista em fazer uma divisão grandes obras / pequenas obras e que dizem (ouço muitas vezes este disparate) “a Câmara fez grandes obras e devia ter feito pequenas obras, que são aquelas que as pessoas precisam”. As obras não são grandes ou pequenas, são necessárias ou o não são... Continuo a pensar que a regeneração urbana é um tópico essencial na vida de um concelho como o nosso. Mas isso será matéria para outro debate no futuro.

Marcaram-me também as relações fortes que estabeleci por todo o concelho (em especial nas aldeias), tal como não esqueço o momento fortíssimo que foi a ida à Suiça e a receção quente que tivémos. Nada na face da Terra paga coisas assim.



Conseguiu como presidente do município levar a cabo todos os objectivos que tinha planeado para os quatro anos?

Qual quê! Nunca se consegue. Até porque, com uma realidade dinâmica, novos desafios, novas ideias e novos problemas surgem a cada momento. O que posso dizer é que lutei em cada momento para alcançar objetivos.

Fizémos questão de obter financiamentos, de deixar projetos terminados e financiados. E obras já em curso. Não venha agora o novo executivo com o argumento “isto está mau e isto está muito pior do que se imaginava” porque não é verdade...

 A saúde financeira do Município não é brilhante? Não é. Mas o futuro não está comprometido. Isto para voltar atrás e para dizer que para além dos projetos com financiamento garantido, há muitos outros já terminados que podem arrancar. Assim haja dinheiro para estes outros. E há um objetivo que só tomou forma no último ano: o do aproveitamento do Convento do Carmo. Esse é daqueles que não pode falhar. Fomos o primeiro Município a integrar o programa. Qualquer falhanço não terá perdão.

Objetivos a concretizar e para os quais não tivemos dinheiro? A Zona Industrial da Amareleja (1ª fase: 500.000 euros), a renovação da rede de águas de Amareleja (4 milhões de euros), a conclusão da renovação da rede de águas de Moura (2,7 milhões de euros). E tantos outros.



Fale-nos um pouco de como vê o futuro do concelho de Moura?

Com preocupação e com ceticismo. Muitas vezes tenho dito que o nosso grande problema é demográfico. Ou seja, perdemos população e a que temos envelhece a olhos vistos. Pensar que atraímos população diminuindo a taxa variável do IRS e devolvendo umas dezenas ou centenas de euros a alguns habitantes (foi uma descoberta da maioria PS no último mandato da Assembleia Municipal) daria vontade de rir se não fosse trágico. Continuar a ignorar, como tem sido feito pelos sucessivos governos, que o problema é estrutural e não de conjuntura, não nos trará soluções...

Não é com a política da caridadezinha (kits bebé e 500 euros em produtos para os recém-nsacidos), e com uma área social marcada pelo assistencialismo (pagamento de consultas, pagamento de medicamentos) que criaremos soluções. Até porque há áreas que são da responabilidade do Estado e é um erro as autarquias assumirem essas responsabilidades.



Como viu a derrota da CDU para o PS, nestas autárquicas, no concelho de Moura?

Com preocupação, pelo que acima disse. Foram feitas inúmeras promessas, muitas das quais vão ser levadas pelo vento. O PS embarcou no populismo – diz-se às pessoas o que elas querem ouvir -, sem se avaliar o que estava a prometer. Prometer o Paraíso qualquer um pode, chegar lá é mais dificilzinho...

O PS capitalizou alguma vontade de mudança, que teve no regresso do meu camarada José Maria Pós-de-Mina um ponto fulcral. A candidatura do José Maria foi vista, injustamente e erradamente, como um regresso ao passado. E isso foi decisivo.

Como várias vezes, tenho dito tenho grandes reservas quanto ao tipo de política que se pretende pôr em prática neste mandato. Oxalá me engane, porque os anos que se avizinham serão marcados por desafios de grande complexidade.

Há financiamentos grantidos e obras em condições de arrancar que não podem parar. Seria criminoso abdicar de intervenções como a do Bairro do Carmo, a da recuperação do antigo grémio, a obra do novo cemitério. Espero que não se cometa esse erro…



Qual foi o motivo que o levou a não se recandidatar à presidência da Câmara de Municipal de Moura?

Houve vários motivos, não apenas um. Não foi o cansaço, apesar do cargo ser desgastante. Cansaço devem ter os reformados que recebem pensões de 270 euros e gastam o dinheiro em medicamentos...

Enviei uma carta ao meu partido onde expliquei todas essas razões. Entendo não dever divulgar o conteúdo dessa carta. Depois disso, surgiram vários boatos, todos eles sem pés nem cabeça: para uns eu teria sido afastado, para outros teria tentado impôr condições nas listas, para outros ainda quis um nº 2 rejeitado pelo partido. O que vale é que dizer disparates não paga imposto…

É um facto que o meu estilo de liderança nem sempre gerou consenso, e falo mesmo a nível interno. Havia medidas drásticas a tomar e foram tomadas. Tenho um estilo e uma forma de trabalhar diretos e frontais. Isso nem sempre é muito apreciado. Admito que possa não ter razão na forma de atuar, mas as metas do mandato e o modo de as atingir foram apontadas logo no início. E, na verdade, o mandato deu resultados palpáveis. Houve muitas obras e muita presença junto dos munícipes. E uma boa recuperação financeira.

Por outro lado, gosto imenso do meu trabalho e da minha área profissional. Quero regressar ao meu outro mundo, o das exposições, da produção cultural, da investigação… Gosto de fotografar e de escrever. Vou retomar isso.

Foi tudo junto, portanto.



Pensa continuar no activo na política ou vai-se dedicar a outros projetos?

Na política estarei sempre, enquanto cidadão. Manterei a minha intervenção e tomarei posições sempre que entender. Se me pergunta se penso manter atividade partidária, direi que muito pouco. Se a questão se reporta a futuras candidaturas em eleições, a resposta é, claramente, NÃO. Muito menos numa altura em que a legislação tende a tornar os autarcas algo parecido a delegados locais do Poder central.

Outros projetos, de cariz científico, na área da investigação, no domínio da Cultura, sempre tive, mesmo enquanto autarca. Vou continuar o meu trabalho. Na área da arqueologia talvez um pouco menos que no passado... Na área dos museus e da conceção de conteúdos para exposições seguramente. Na escrita, de certeza.



Como líder da autarquia nos últimos quatro anos, qual a mensagem que gostava de deixar, principalmente aos munícipes de Moura?

A de que é imprescindível continuarmos a lutar pelo nosso futuro. A de que é necessário termos confiança no futuro. A de que o nosso concelho não está nem estará atrás de outros. A de não podemos nem devemos esperar benesses do Poder Central. Que não podemos fazer vénias aos supostamente poderosos.

Do ponto de vista pessoal, cá estarei. Esta é a minha terra e este é o povo a que pertenço.

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