terça-feira, 14 de novembro de 2017

A SALA DO TRONO

Ontem à noite, não sei bem porquê, lembrei-me desta passagem do relato de Liuteprando de Cremona, quando foi recebido pelo imperador bizantino Constantino Porfirogeneta, o qual se sentava num espetacular trono:

À frente do trono do imperador estava uma árvore em ferro dourado, em cujos ramos estavam pássaros de vários tipos, também feitos em ferro dourado, que cantavam de diferentes maneiras. O trono em si era tão habilmente construído que ora parecia baixo ora se elevava a grande altura. Era guardado dos dois lados por enormes leões de ferro ou madeira dourada que batiam com as caudas no chão e rugiam alto, com as bocas abertas e as línguas que se moviam.

Nesta sala, seguido por dois eunucos, fui levado à presença do imperador. À minha entrada, os leões rugiram e os pássaros cantaram, mas isso não me encheu de terror nem de admiração, porque já tinha sido avisado por outras pessoas que já tinham passado por essa experiência. Mas, depois, de me ter prostrado pela terceira vez, quando levantei a cabeça, vi o imperador, que antes estava sentado um pouco acima de mim, quase junto ao tecto da sala, vestido com outras roupas. Não sei como isto era feito.

É uma das minhas passagens preferidas sobre a corte bizantina, a par com alguns textos de Procópio de Cesareia (séc. VI). Os sofisticados mecanismos que Liuteprando relata perderam-se com o tempo, mas é interessante, em especial, a menção ao trono que se eleva aos céus. Este endeusamento do poder está bem presente até os nossos dias, com particular expressão nas áreas geográficas tocadas pelo império bizantino.
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O ritual de prostração a que o embaixador foi obrigado chama-se proskynesis. Mergulha as suas raízes no mundo persa e chegou, também ele, até aos nossos dias, sendo hoje usado na ordenação de sacerdotes.


A sala do trono em Bizâncio é uma obra do orientalista francês Jean-Joseph Benjamin-Constant (1845–1902).

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