quarta-feira, 22 de novembro de 2017

AMIGO

No livro O cinema contemporâneo, decisivo nos meus tempos de juventude, Penelope Houston tem uma série de tiradas argutas e notáveis. Uma delas é sobre os filmes de François Truffaut. Diz algo como "Truffaut, tal como Renoir, seu reputado mestre, faz filmes sobre a amizade" (cito de memória). O livro é, salvo erro, de 1963. Renoir sempre me pareceu ser mais lírico que Truffaut. O qual, indiscutivelmente, fez filmes sobre a amizade e a proximidade entre as pessoas.

Nenhum outro sentimento me toca tanto como esse. O telefonema de há pouco, com um amigo de há 40 anos, confirmou-o. Há amizades provavelmente eternas. Outras são circunstanciais. 


Dois amigos na Mina de S. Domingos há quase 20 anos.
Ele trabalha na Câmara de Mértola. Ela também.

Amigo


Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».

«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!

«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.

«Amigo» é a solidão derrotada!

«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O'Neill

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