domingo, 25 de março de 2018

GERÚNDIO OU A MORTAL DOENÇA



MORTAL DOENÇA
Na febre do amor próprio estou ardendo,
No frio da tibieza tiritando,
No fastio ao bem desfalecendo,
Na sezão do meu mal delirando,

Na fraqueza do ser vou falecendo,
Na inchação da soberba arrebentando.
Na dureza do peito atormendada,
Na sede dos alívios consumida,

No sono da preguiça amadornada,
No desmaio à razão amortecida,
Nos temores da morte trespassada,
No soluço do pranto esmorecida,

Já morro, já feneço, já termino,
Vão-me chamar o Médico Divino.
Na dor de ver-me assim, vou desfazendo,
Nos sintomas do mal descoroçoando,

Na sezão de meu dano estou tremendo,
No risco da doença imaginando,
No fervor de querer-me enardecendo,
Na tristeza de ver-me sufocando,

Já morro, já feneço, já termino,
Vão-me chamar o Médico Divino.
Vou ao pasmo do mal emudecendo,
À sombra da vontade vou cegando,

Aos gritos do delito emouquecendo,
Na tristeza de ver-me sufocando,
Já morro, já feneço, já termino,
Vão-me chamar o Médico Divino.

Ouvi, ontem de manhã, na Antena 2, este poema de Soror Maria do Céu (1658-1753).

Não sei porquê, ou talvez sim..., evocou-me o monumento à Beata Ludovica Albertoni, obra de Gian Lorenzo Bernini, que a realizou entre 1671 e 1674 para a igreja de San Francesco a Ripa, em Roma.

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