quarta-feira, 7 de março de 2018

QUE SAUDADES DO MARQUÊS DA PRAIA

Dei comigo, na noite de ontem, a ler um texto de Alfonso de Valdés (c. 1490-1532). Eis um excerto de Diálogo en que particularmente se tratan las cosas acaecidas en Roma el año de 1527, a gloria de Dios y bien universal de la República Cristiana:

Tantas igrejas, tantos mosteiros, tantos hospitais, com que Deus soía ser servido e honrado, destruídos e profanados! Tantos altares, e a própria igreja do príncipe dos apóstolos, ensanguentados! antas relíquias roubadas e com sacrílegas mãos maltratadas! Para isso juntaram os seus predecessores tanta santidade naquela cidade? Para isso honraram as igrejas com tantas relíquias? Para isso lhes deram tão ricos atavios de oiro e de prata, para que viesse ele com as suas mãos lavadas a roubá-lo, a desfazê-lo, a destruir tudo? Deus soberano! Será possível que tão grande crueldade, tão grande insulto, tão abominável ousadia, tão espantoso caso, tão execrável impiedade fiquem sem mui rijo, sem mui grave, sem muito evidente castigo? Não sei como aqui o sentis, e se o sentis, não sei como assim o podeis dissimular.

Arcidiano, falando sobre o saque à cidade de Roma, ocorrido em 6 de maio de 1527. Gravura de Hans Holbein, o Jovem (1497/8-1543). Retrata um grupo de lansquenetes em ação.

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