segunda-feira, 25 de junho de 2018

LÁ LONGE, A ARRÁBIDA

Esta tela de Carlos Calvet da Costa (1928-2014) intitulada Vista sobre Lisboa tornou-se-me familiar, depois de tantas idas aos Paços do Concelho. É uma perspetiva inabitual, com os tons nacarados das nuvens a levarem para lá o olhar. Ao fundo, está o perfil azul da Arrábida. Devia ser convocado mais vezes, só para poder olhar mais para Lisboa e, lá longe, para a Arrábida.


VERSOS AO MAR

Ai!,
o berço da tua voz,
e esse jeito de mão que tens nas ondas,
Mar!

Quando eu cair exausto
sobre as conchas da praia e fique ali
doente e sem ninguém,
hás-de ser tu quem me trate,
quero que sejas tu a minha Mãe.

Há-de embalar-me a tua voz de berço,
pra que a febre me deixe sossegar,
e hás-de passar, ó Mar!
pelo meu corpo em chaga,
as tuas mãos piedosas comovidas,
pra que sintas por mim as minhas dores
e eu sinta só o bálsamo nas feridas.

Como se fosses tu a minha Mãe…
Como se fosses tu a minha Noiva…

E hás-de contar-me histórias velhas
de Marinheiros…
Histórias de Sereias e de Luas
que se perderam por ti…
E se a Morte vier há-de quedar,
toda encantada, a ouvir-te,
e, sem ânimo já me há-de quedar,
Toda encantada, a ouvir-te,
E, sem ânimo já de me levar,
sorrindo, voltará por seu caminho
(não na sentimos vir, nem ir, tão de mansinho
se passou tudo, Mar!),
voltará de mansinho,
pé ante pé, pra não nos perturbar,
 mas saudosa da tua voz de berço…

(Sebastião da Gama)

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