terça-feira, 9 de outubro de 2018

CRÓNICAS OLISIPONENSES - XVII

"Boa sorte, amigo", clamou, jovial como sempre, o dono da tabacaria. O amigo virou-se, sem dizer palavra, e olhou-me, sem expressão. Não faz ideia de quem eu sou. Eu reconheci, de imediato, a figura de um Grande Poeta. Sem ironia. Com o ar sofrido de sempre, tão sofrido como os seus belos poemas, vinha tentar a sorte no euromilhões. "Pstt, ó amigo, ó amigo, olhe o talãozinho, amigo". Mais 180º e o Grande Poeta recolheu o talãozinho. Vão achar um acabado disparate, mas nunca tinha imaginado um poeta a atacar um prosaico euromilhões. Senti-me um pouco como Pedro Canavarro quando lhe perguntaram que gostaria de ver, se fosse o homem invisível. Mas é melhor deixar isso para depois.

Agora, quando ler um poema dele, vou ouvir sempre a voz do homem da tabacaria, ó amigo, ó amigo, depois vem mais um pouco de angústia em palatino 12, e volto a ouvir olhe o talãozinho amigo. Raismepartam...

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