quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

BANCO DE GORRINGE

Este é um mais um banco que, por norma, dá problemas. Diz a wikipedia (oxalá bata certo) que  se situa "a cerca de 120 milhas marítimas a oeste-sudoeste do Cabo de S. Vicente. A microplaca da Península Ibérica e a placa africana convergem de forma oblíqua ao longo do acidente geológico Açores-Gibraltar, provocando o levantamento da litosfera oceânica que formou o banco de Gorringe". É a fricção das duas placas que está na origem dos terramotos que, regularmente, sentimos.

A última destas libertações de energia de maiores dimensões fez-se sentir na madrugada de 28 de fevereiro de 1969. Faz hoje 50 anos. Recordo três coisas, com toda a nitidez: a minha mãe a arrancar-me da cama (velho hábito, durmo como uma pedra e nem aquele ronco inesquecível vindo do fundo da terra, despertou os meus 5 anos); o meu pai a subir e a descer a escada, atarantado, enquanto a casa chocalhava, porque trancara a porta e não sabia da chave; e de passar parte da noite, animadamente, com a rapaziada da vizinhança na parte de trás da carrinha de um vizinho que era vendedor das máquinas OLIVA. Era uma AK 400...

A casa

O carro

O epicentro


E um poema de Fernando Pinto do Amaral que creio vir a propósito:

Desceu tão de repente o sol por onde
andámos. Já não o vejo
essa janela para além das árvores,
esse lugar-refém
de tudo o que senti. A própria infância
confundiu as imagens, quis amar
a voz do seu segredo.

Se ainda existe o verão, porquê
a nostalgia, a dor feliz que foge e não
regressa? A cada instante parece outra
a melodia
nos olhos do meu pai do meu irmão
e eu sei adormecer, rezar ainda
com a minha mãe à cabeceira.

Quais são as cores da morte? Uma paisagem
acontecendo, em sombra, os objectos
esquecendo-se de nós - numa só vida
começam e acabam mais outras
vidas.

Era uma casa cor-de-rosa e do meu quarto
Podia ver-se o mar.

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