domingo, 14 de abril de 2019

IDADE DO FERRO DENTRO

Não foi bem turismo por terras de Almodôvar. Foi um regresso a sítios sobejamente conhecidos. No silêncio do meio-dia. Com o calor à nossa volta. Das estelas do Museu da Escrita do Sudoeste passámos ao povoado de Mesas do Castelinho. O enigma dos textos que ainda ninguém conseguiu ler. O fascínio dos sítios perdidos no meio da serra, entre os penhascos e a exploração dos metais. Uma civilização no fim do mundo. O concelho de Moura faz parte desse mundo.

De António Ramos Rosa:
Escuto na palavra a festa do silêncio. 
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se. 
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas. 
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas. 
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma. 

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia, 
o ar prolonga. A brancura é o caminho. 
Surpresa e não surpresa: a simples respiração. 
Relações, variações, nada mais. Nada se cria. 
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça. 

Nada é inacessível no silêncio ou no poema. 
É aqui a abóbada transparente, o vento principia. 
No centro do dia há uma fonte de água clara. 
Se digo árvore a árvore em mim respira. 
Vivo na delícia nua da inocência aberta.


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