Nenhum estudante do ensino superior de “A Planície” ignora esta
expressão. MOODLE quer dizer Modular Object-Oriented Dynamic Learning
Environment. É uma plataforma de apoio ao estudo. Diz a wikipedia (e isto vale o
que vale) que está disponível em 75 línguas
diferentes. Conta com 25.000 websites registados, em mais de 175 países.
O meu entusiasmo com estas plataformas é limitadíssimo.
Habituei-me a carregar nelas a bibliografia e os powerpoints das aulas. Como estes me servem apenas de ponto de
partida, não é terrivelmente interessante passar aos alunos um desfilar de
imagens. Mas as regras são essas.
O meu primeiro embate com as benditas plataformas deu-se há
bem mais de 10 anos. Fui aos Serviços Académicos, em Gambelas, lançar as notas.
“Ah, mas isso agora é feito na plataforma”. A senhora sentou-se ao meu lado e
garantiu “isto é facílimo”. Faz-se assim, assim e assim. E assim e assim. Ao
oitavo ou nono “agora clica aqui”, pedi “espere, espere”. Puxei do bloco de
apontamentos e fiz um diagrama com setas, repetindo os passos. Uma seta na
diagonal para cima e para a direita, outra para o lado, agora em cor vermelha.
Um círculo. Um ponto de exclamação, auxiliares de memória uns a seguir aos
outros. Expliquei a uma atónita funcionária “assim, não tenho de usar a memória
para repetir estes passos de cada vez que aqui venho”. Olhou-me com um ar de
piedade. Senti a tentação de lhe dizer que, no meu liceu, havia um pbx (o que
será um pbx?, perguntará algum jovem que leia este texto), os “pontos” eram
feitos com stencil, não havia computadores pessoais, muito menos havia moodle.
O moodle tem vantagens? Sim, tal como a plataforma
“academia”. Tal como é uma tremenda vantagem podermos recorrer a textos que estão
disponíveis na net e aos quais antes só podíamos aceder em longínquas
bibliotecas. Mas o moodle e as plataformas não excluem as bibliotecas, a
recolha de apontamentos e, sobretudo, as longas horas de conversa à volta de
temas. "Sabem como é
que recrutam professores para uma das melhores universidades americanas? Pedem
três livros escritos por cada um dos candidatos e é com base nisso que fazem a
seleção". A afirmação foi feita ao nosso grupo, em Mértola, por José
Mariano Gago, há uns bons 10 anos. Ou seja, nem peer reviews, nem
dados coisométricos, nem citações, apenas a leitura e a análise de textos.
A investigação tornou-se uma técnica ensimesmada e
defensiva. “Tens um estilo de escrita que é pouco académico”, comentou uma
muito jovem amiga. Repetia, sem o saber, o comentário da minha orientadora de
mestrado. Tomei a frase como um elogio. Ora então, vivam então a liberdade da
escrita e a busca da perfeição da escrita. É nisso que penso sempre, olhando as
pisadas de António Borges Coelho, a única pessoa que conheço que sabe conjugar
linguagem poética, um estilo fluido de narrativa e o absoluto rigor de análise.
Isso, e a leitura, são coisas decisivas. O moodle é uma circunstância com a
qual se tem de viver. Como a rinite crónica.
Em setembro, regressa o moodle – via Universidade
Nova - à minha vida. Será utilizado de forma parcimoniosa e pessoal. E com o
recurso a diagramas. Daqueles que causam risos em colegas mais novos dos
serviços académicos.
Crónica publicada hoje, em "A Planície"
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