quarta-feira, 18 de setembro de 2019

RITUAL DA FEIRA

Não estou em Moura, durante todo um ano e por junto, mais de 15 a 20 dias. Se tanto. Mas fico com a ideia de não partir nunca. O poema diz coisas diferentes, mas é o título que é muito bonito.

Nesta feira cumpriu-se mais um pequeno ritual. Têm sempre a simpatia deste convite. Fotografia e imperial. Correspondo sempre. Foi pena o dr. António Costa não ter querido provar a MAGANA. Sempre ajudava os moços a promover a excelente cerveja artesanal que fazem. Eu também dou uma ajuda, mas bolas!, eu não sou primeiro-ministro...


Na véspera de não partir nunca

Na véspera de não partir nunca 
Ao menos não há que arrumar malas 
Nem que fazer planos em papel, 
Com acompanhamento involuntário de esquecimentos, 
Para o partir ainda livre do dia seguinte. 
Não há que fazer nada 
Na véspera de não partir nunca. 
Grande sossego de já não haver sequer de que ter sossego! 
Grande tranqüilidade a que nem sabe encolher ombros 
Por isto tudo, ter pensado o tudo 
É o ter chegado deliberadamente a nada. 
Grande alegria de não ter precisão de ser alegre, 
Como uma oportunidade virada do avesso. 
Há quantas vezes vivo 
A vida vegetativa do pensamento! 
Todos os dias sine linea 
Sossego, sim, sossego... 
Grande tranqüilidade... 
Que repouso, depois de tantas viagens, físicas e psíquicas! 
Que prazer olhar para as malas fítando como para nada! 
Dormita, alma, dormita! 
Aproveita, dormita! 
Dormita! 
É pouco o tempo que tens! Dormita! 
É a véspera de não partir nunca!


Álvaro de Campos

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