quarta-feira, 16 de outubro de 2019

IBN HAYYAN E IBN MARWAN

Reli há dias, pela enésima vez, o Muqtabis V, crónica escrita por Ibn Hayyan (987-1075) sobre o percurso de Abd ar-Rahman III entre os anos de 912 e 942 d.C.. É uma obra essencial para se perceber o trabalho de unificação política operado pelo futuro califa.

Livros como este, outrora inacessíveis, foram divulgados por gente empenhada e competente como Maria Jesus Viguera e Federico Corriente. A edição de que disponho, dada à estampa pela ANUBAR em 1981, está surradíssima. Continuo a divertir-me com a sua leitura, como se fosse a primeira vez que abrisse o livro. A minha passagem preferida continua a ser a "avaliação", muito pouco objetiva..., que o cronista faz dos Banu Marwan, senhores do ocidente e uma permanente dor de cabeça para o poder cordovês: "A ellos fue [an-Nasir, o futuro califa] con todo su poder, empezando por el señor de Badajoz, que era entonces Abdarrahman b. Abdallah b. Abdarrahman, llamado al-Jilliqi, heredero de su poder de cuatro antepasados, distinguidos en el error y firmes en la perdición: an-Nasir hizo alto a las puertas de Badajoz, cueva de disensión, nido de perdición y comienzo de su bisabuelo, Abdarrahman b. Marwan, aliado del diablo y gérmen del error (...)". Ao citar esta passagem na aula, não pude deixar de comentar "o nosso amigo Ibn Hayyan cumpria bem o seu papel de cronista a soldo do poder, detestando sinceramente os inimigos dos patrões...".

Não é uma exceção. Esta linguagem colorida repete-se noutros cronistas. Ibn Sahib al-Sala no "Al-mann bil-imama" não lhe fica atrás... São argumentos a favor de uma visão da História menos solene e mais próxima da vida real.


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