domingo, 8 de dezembro de 2019

ROGÉRIO LANTRES DE CARVALHO (1922-2019)

Era um daqueles sábados à tarde, com nada para fazer e numa Lisboa muito diferente e sem a diversidade de coisas que há hoje. Não sei precisar o ano, mas foi seguramente em 1981 ou 1982. Fui ao Estádio da Luz, só para passar o tempo. Havia um jogo de veteranos e entrava em campo o Sport Lisboa e Saudade, nome bem kitsch, diga-se de passagem.

Às tantas houve um bruááá nas bancadas. Eusébio ía entrar em campo. Já reformado, não se livrou de levar duas sarrafadas, amuou, saiu do campo, voltou a entrar, marcou um golo, outro bruááá. Estava a começar a achar uma certa graça aquele folclore, quando entra no terreno um senhor já idoso, baixo e magrinho, com o cabelo todo branco. Corria pouco mas, de cada vez que tocava na bola, saía um drible elegante e um passe certeiro. Uma vez, duas vezes, n vezes, nos poucos minutos que esteve em campo não falhou uma. Às tantas, pergunto ao meu pai "quem é este velhinho extraordinário?". Resposta rápida: "Rogério Lantres de Carvalho, já ouviste falar?". Já tinha ouvido falar nele, claro. Tinha deixado de jogar muito antes de eu ter nascido.

Os momentos de magia foram curtos. Aquela tarde ficou-me gravada na memória. O tempo sublinhou uma certeza. Quem sabe, nunca desaprende. Pode saber de outra forma, ou ter de se adaptar. Mas não deixa de saber. Quem não sabe ou não quer aprender, vê pouco e vê curto. Facto que constato todos os dias. 

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